Economia

Duração da guerra na Ucrânia e lockdowns na China vão determinar custo de vida no país

Nos últimos 12 meses, a inflação já acumula 12% ROBERTO GARDINALLI/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
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No começo do ano, a meta era de 2% a 5%, mas já está projetada a quase 8% pelo BC e beira os 9% na avaliação do mercado

O Copom (Comitê de Política Monetária), do BC (Banco Central), decidiu nesta quarta-feira (4) aumentar a taxa Selic a 12,75% ao ano. A elevação da taxa básica de juros tem como objetivo conter a inflação, que segue em alta em 2022.

Nos últimos 12 meses, a elevação dos preços acumula 12% e, em abril, chegou a 1,75%. No começo do ano, a meta era de 2% a 5%, mas já está projetada a quase 8% pelo Banco Central e beira os 9% na avaliação do mercado.

“As pressões inflacionárias decorrentes da pandemia se intensificaram com problemas de oferta advindos da nova onda de Covid-19 na China e da guerra na Ucrânia”, afirmou o BC, em nota, ao explicar a elevação da taxa básica de juros e indicar a ocorrência de novo aumento no próximo mês.

O conflito entre Rússia e Ucrânia trouxe impactos sobre os preços de energia e alimentos. Já a política de Covid zero na China, com lockdowns, provoca risco de desabastecimento de produtos finais, peças e outros insumos industriais.

Matheus Peçanha, economista do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia), explica que o Brasil está enfrentando no momento uma inflação de custos. “É mais difícil de controlar e mais difícil de prever, porque foge do controle e depende muito de fatores externos. Em 2020, tivemos La Niña, que causou inflação via grãos e atingiu também as proteínas, como as carnes. Já em 2021 houve a seca, que impactou os preços do agro, e quando passamos pela seca veio a geada, que fez subir os preços do hortifrúti, como o tomate e a cenoura”, afirma.

Em 2022, além do impacto inercial da inflação de 2021, houve grande reflexo da guerra e de problemas com a chuva nos preços.

“Nossa inflação vai depender muito do ritmo da guerra entre Ucrânia e Rússia, mas há bons prognósticos. Essa questão da inflação dos alimentos é climática e, a partir do inverno, devemos observar um regime mais estável de chuvas. Além disso, o problema da energia também deve melhorar. Já houve uma revisão da bandeira, estamos na verde. Por outro lado, os problemas da guerra impactam muito o setor de fertilizantes, que também esbarra nos alimentos e combustíveis”, explica o economista.

Segundo o economista Davi Lelis, especialista da Valor Investimentos, as incertezas dificultam o prognóstico da alta de preços. “O pico inflacionário deve acontecer assim que as cadeias produtivas se normalizarem, bem como a situação da guerra na Ucrânia e os estímulos econômicos se normalizarem também. Aí a inflação começará a arrefecer”, analisa.

A alta dos combustíveis afeta muitos setores da economia, porque eles são fundamentais para o frete dos produtos e para a produção agrícola. Diesel e gás também são importantes em diversas etapas da produção brasileira, e seu preço deve flutuar de acordo com a guerra.

A gasolina subiu 7,51% em abril e foi o principal fator para a maior inflação em 27 anos para o mês. O preço dos combustíveis tem impacto direto no setor de transportes (+3,43%), que também pressionou o IPCA. Aumentaram ainda os preços do óleo diesel (+13,11%), do etanol (+6,6%) e do gás veicular (+2,28%).

De acordo com Peçanha, se não houver novos choques de custos, como aconteceu em 2020 e 2021, a inflação dependerá muito do ritmo do conflito na Ucrânia e, por isso, deve seguir alta, apesar de mais estável. 

Fonte R7

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