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Michael Bublé declara amor pela vida e pela música: “Voltei me sentindo forte e grato”

Michael Bublé (Foto: Norman Jean Roy
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Michael Bublé surge animado do outro lado da tela do meu computador na chamada de vídeo para falar sobre Higher, seu décimo primeiro álbum de estúdio que acaba de ser lançado. Ao meu “como você está?”, ele responde: “um pouco nervoso”. Apesar dos 20 anos de carreira e dos mais de 75 milhões de álbuns vendidos ao redor do mundo, o artista canadense, de 46 anos de idade, mantém o mesmo entusiasmo, nervosismo e expectativa que tinha ao lançar o seu primeiro disco BaBalu, em 2001.

O cantor não imagina que o sentimento é recíproco. Ainda me lembro da primeira vez que ouvi a sua voz. Estava apressada, fazendo algumas tarefas na minha casa quando escutei ao fundo uma voz grave e suave cantando ao som de batidas que remetiam quase a uma bossa nova uma versão de You’ll Never Find Another Love Like Mine, eternizada no ritmo soul de Lou Rawls, na década de 70. Corri para a frente da TV e anotei o nome do artista anunciado no comercial de seu primeiro álbum com a Reprise Records/Warner Records, Michael Bublé (2003). Suas versões no estilo jazz standard de Crazy Little Thing Called Love, dos roqueiros do Queen, e de Kissing a Fool, da estrela pop George Michael, assim como interpretações The Way You Look Tonight Come Fly With Me, de Frank Sinatra, já mostravam que Bublé não tinha limites.

Essa versatilidade conquistou um público variado. Sua primeira turnê pela América Latina aconteceu em 2008, três anos após sua composição Home, de It’s Time, segundo disco com a gravadora, estourar no Brasil como trilha sonora do casal Sol (Deborah Secco) e Ed (Caco Ciocler) na novela das oito América (2005).

Michael Bublé (Foto: Warner Records)

Com o avô Demetrio Santanga – que lhe apresentou ainda na infância os crooners dos anos 30 e 40 – na plateia, o cantor se apresentou acompanhado de saxofonistas, violoncelista, pianistas e outros músicos em um show eletrizante, em que ele descia do palco para abraçar fãs, que iam desde a apresentadora Hebe Camargo (1929 – 2012) a jovens como eu era na época, no meus 20 e poucos anos.

“Algo que mais me orgulho é quando olho para o público e vejo um grupo tão eclético de pessoas. Isso me dá fé de que a música é o grande conector. É muito louco isso! Quero dizer, na América, sempre foi assim. Amigos que foram me ver pela primeira vez não podiam entender nada porque viam tantos negros na plateia, depois uma garotada – que celebrava o nono aniversário com seus amigos -, mulheres usando véus islâmicos, um cara com seu avô de noventa anos…. E eles diziam: “Que diabos é isso? Como pode isso?’. É apenas música e faço música para todos”, diz ele, que se apresentou três vezes por aqui e tem suas canções em trilhas sonoras de nove novelas brasileiras.

No novo projeto, Higher, o artista segue sem medo, transitando pelo country ao lado de Willie Nelson em uma versão de Crazy, revisitando o clássico do final dos anos 30 A Nightingale Sang in Berkeley Square, passando pelo soul music You’re My First, My Last, My Everything de Barry White e uma versão com direito ao acompanhamento de um coral gospel em Smile, eternizada pelo filme Tempos Modernos (1936), de Charles Chaplin.

“É estranho até para os meus produtores, como Greg Wells. É a primeira vez que trabalhamos juntos e ele é um gênio. E ele me dizia: ‘Eu não entendo. Então você quer fazer isso? Espera, então você vai escrever essas músicas pops, mas você também quer fazer Crazy com Willie Nelson e um Nightingale? Você está falando sobre fazer (uma versão) de Barry White de You Are The First, My Last, My Everything? E depois Smile de 1930?’. E cerca de duas semanas, estávamos trabalhando em uma das músicas inéditas, a Higher, e ele pausou e disse: ‘Eu entendo agora. A linha de conexão é a sua voz. Esta é a linha que você pode fazer o que quiser, soul, rock, pop, jazz, big band, country, seja lá o que for’. Sim, isso funciona e parte do motivo pelo qual funciona é porque eu amo música, amo todos os tipos de música e não sou inseguro quanto a isso. Eu apenas amo música e amo não ser rotulado. Eu meio que sigo lutando contra isso”, explica ele, que no disco novo ainda regravou My Valentine (2012), de Paul McCartney, com produção do próprio Beatle.

“O primeiro contato veio do Paul e seu empresário. Ele disse: ‘Soubemos que você está fazendo um álbum e achamos que você poderia cantar My Valentine. Seria uma boa música para você’. Eu me senti tão honrado apenas pelo fato de pensarem em mim. Fiz uma demo e mandei por Sir Paul, com o meu telefone… Isso significa mais para mim do que qualquer um possa imaginar. É alguém – que eu admiro tanto e que reverencio – confiando a mim sua arte. Minha única esperança era deixá-lo orgulhoso. Ele é um ser humano lindo. Como seu talento não existe igual no universo. Sou apenas grato, novamente, grato”, conta.

“Algo que me marcou foi quando terminamos a gravação, Paul veio e me disse: ‘Acho que está bom’. Eu respondi: ‘Muito obrigado. Não quero mais tomar o seu tempo’. E ele: ‘Quê? Eu posso ficar? A gente pode sair para curtir?’’. Eu falei: ‘Sim! Eu só não queria tomar o seu…’. Eu estava tão comovido. Ele perguntou: ‘A minha mulher pode vir para escutar (a música)?’. E isso foi demais. Ele trouxe a mulher dele para ouvir e ela é uma senhora maravilhosa. E isso foi muito legal para mim. Tudo foi um privilégio grandioso.”

Michael Bublé (Foto: Warner Records)

“Paul McCartney é um ser humano lindo. Como seu talento não existe igual no universo”

Mas não são só os grandes nomes da música que o inspiram. Ele ainda encontrou na imaginação do primogênito, Noah, de 8 anos, a base para o single pop Higher. Bublé relembra que o menino o interrompeu durante o banho para mostrar os versos de uma canção que dizia ter composto.

Higher foi feita pelo meu filho Noah. Ele entrou no banheiro e disse: ‘Escrevi essa música, pai, e é mais ou menos assim: when you go low, and I get higher (cantarola). E eu: ‘Uau! Isso é bom!’. Meses depois, quando eu estava trabalhando com Ryan Tedder (compositor) no novo álbum, eu disse: ‘Ryan, meu filho de oito anos escreveu isso’. Cantei para ele e se tornou uma canção. Meu filho de oito anos foi o coautor no meu segundo single deste álbum”, se orgulha.

Michael Bublé (Foto: Norman Jean Roy)

AMOR PELA VIDA E MÚSICA
A vontade de se arriscar ainda mais em seu novo projeto veio após três anos sem gravar um álbum de estúdio e a chance que ganhou para amar a música e a vida novamente após a cura do câncer no fígado de Noah, seu primeiro filho com a atriz argentina Luisana Lopilato, com quem também tem Elias, de 6 anos, e Vida, de 3.

“Dois ou três dias após eu lançar o álbum Nobody But Me (2016), descobrimos que o nosso filho tinha sido diagnosticado. Então, esse disco foi arquivado, basicamente. Eu me ausentei por dois anos para estar com a minha família e fazer o que fosse necessário. Dois anos após isso, eu sabia que precisava lançar um novo disco, mas a verdade é que eu não estava preparado. Eu não em sentia forte, emocionalmente me sentia muito frágil e vulnerável. Eu tentei fazer um álbum seguro (Love – 2018) e com pessoas que me dessem essa segurança. Saí muito timidamente e o promovi. Às vezes eu chorava em entrevistas, quando me sentia desconfortável, fiz shows em que chorei e, em muitos momentos, não sabia o que esperar ou como eu iria me sentir”, relembra ele, que neste período de pandemia pode reencontrar o equilíbrio no isolamento social com sua família.

“Hoje, meu filho está bem, minha família está bem. Já me curei muito. A pandemia foi difícil para muitas pessoas, mas me deu muito mais tempo e perspectiva para ser grato. Voltei me sentindo tão forte e tão grato. Isso me deu a sensação de tanta alegria e a oportunidade de construir, escrever, criar, me sentir leve, feliz… Essa é a diferença. Eu não sou um homem diferente. Mas emocionalmente estou muito melhor e me sinto muito mais forte. O que você escuta neste álbum é alegria, satisfação, é ‘obrigada, Deus, por cuidar da minha família e me dar oportunidade de amar a música e a vida novamente’. Estou curtindo cada minuto disso tudo. Me sinto muito bem.”

Michael Bublé (Foto: Warner Records)

UMA NOVA SEQUÊNCIA DO AMOR
Entre as canções inéditas do novo disco está I’ll Never Not Love You, que ganhou um clipe em que Michael e Luisana protagonizam cenas de romance do cinema. Os dois, que se conheceram durante uma confraternização que ele fazia após um show na Argentina em 2008, já haviam protagonizado o vídeo de Haven’t Met You Yet (2009), composição dedicada ao amor à primeira vista pela atriz, que vivia em outro país e não falava a sua língua. Ele explica que por acaso, a nova canção e o clipe acabaram se tornando uma sequência da história do casal, que no final da gravação revela que espera o quarto filho.

“Lembra quando eu falei que eu estava dizendo ‘sim’ para tudo? Fui apresentado a uma música do Justin Bieber, que minhas crianças e minha mulher amam, chamada Holy. Busquei quem era o compositor e fui apresentado a ele, seu nome é Michael Pollack. E Michael é um jovem músico e compositor incrivelmente talentoso. E ele realmente fez todo o trabalho… Ele tinha a música na manga. Eu tinha que ter certeza de que queria aquilo, em termos de ritmo e todas as outras coisas, mas eu senti uma conexão muito rápida, muito bonita. Senti como uma sequência de Haven’t Met You Yet. Estava conversando com uma amiga, chamada Amy Foster, que me ajudou a escrever Haven’t Met You Yet, e pensando em uns conceitos para o clipe. E ela disse: ‘Mike, você ama o cinema e eu sei que você ama porque toda vez que você faz um arranjo ou canção é sempre tão cinematográfico. Por que você não faz uma viagem pelo universo do cinema? Eu falei: ‘Amy, grande ideia’. Muito rapidamente toda a ideia veio: ‘Amy, preciso achar a atriz. Quem eu vou escalar para ser a atriz?’. E ela falou: ‘Você é um idiota! (risos). Você não precisa encontrar, você já tem a melhor atriz. Você é casado com a melhor atriz. Você é louco’”, relembra ele, que se casou com a argentina em 2011.

“E foi aí que eu tive a ideia de não só viajar pelo cinema e fazer um tributo ao romance, mas fazer a sequência. O vídeo tem tantos easter eggs, os quais não posso contar. É a arte imitando a vida e a vida imitando a arte. Eu não sei como isso poderia acontecer de um modo diferente. Nós não planejamos que isso acontecesse. Foi perfeito! Estar por quatro dias filmando com a minha melhor amiga, rindo muito e sendo bobo foi maravilhoso. Eu realmente sou muito sortudo. Eu me casei com uma mulher maravilhosa. Uma coisa interessante é que nesta pandemia, depois de um tempo trancados, os casais passaram por diversas situações. Muitos amigos disseram: ‘Não posso passar um dia a mais com esse idiota. Já deu’. Já outros falaram: ‘Nossa! Eu sabia que amava meu companheiro, mas agora realmente sei que estamos bem’. Você descobre tantas coisas quando as pessoas estão assustadas. Elas ficam bravas, frustradas, perdem sua empatia, a sua saúde mental declina. Mas para mim esse período foi de muito amor.”

Michael Bublé (Foto: Norman Jean Roy)

RETORNO AOS PALCOS
Agora em abril, Michael Bublé se prepara para retomar sua turnê mundial, que teve datas, como a do Brasil, adiadas por causa da pandemia. Cidadão argentino desde que se casou, ele diz que está ansioso para voltar para a América do Sul em novembro deste ano. Ele se apresenta no Rio de Janeiro no dia 3, na Jeunesse Arena, em São Paulo nos dias 5 e 6, no Allianz Parque, e no dia 8 na Arena da Baixada, em Curitiba, antes de seguir para Buenos Aires 

“Mal posso esperar! Tudo é tão fluido o tempo todo por causa da Covid. É tão frustrante. Porque sempre é como se eles agendassem e mudassem. Mas acho que estamos apenas tentando fazer da maneira certa para sermos responsáveis. Espero que tudo continue dando certo”, anseia ele, que se considera um argentino típico e arranha um espanhol com o sotaque dos hermanos.

“Sou muito argentino. Exceto pelo ego (risos). Tenho muito orgulho de ser argentino. Meus filhos são todos argentinos, eu falo espanhol com sotaque argentino… Gosto da música, cinema, comida… Mas não entendo porque quando tem um jogo do Brasil, os argentinos ficam mais felizes em ver o Brasil perder do que ver a Argentina ganhar. Eu não torço contra. Eu tenho tantos amigos e fãs brasileiros. Mas é curioso. Quando pergunto para os meus amigos argentinos: ‘Onde vocês querem passar as férias?’. O primeiro lugar que eles querem ir é o Brasil. Eles querem ir para a Argentina? Não! Em primeiro lugar está o Brasil! ‘Ah, não, nós amamos o Brasil. Nós amamos a comida do Brasil ou a música do Brasil. Ah, além das mulheres’. Sim, é tão engraçado. É estranho este relacionamento. Eles amam vocês, mas quando se trata de futebol fica tão estranho”, se diverte.

Apesar de estar animado em voltar a sentir a energia do palco e a ter contato com os fãs, ele diz que pretende ficar menos tempo na estrada do que antes. Desde que conheceu Luisana, o cantor afirma que tem ainda mais motivos para cantar o refrão de seu hit Home, “I wanna go home” (Quero ir para casa). Bublé interrompe a entrevista para me mostrar um vídeo da caçula que gravou ao retornar para casa após um longo dia de trabalho ao encontrá-la acordada, a sua espera.

“Eu amo estar na estrada. Eu amo me conectar com almas bonitas, mas não há lugar como o meu lar. Especialmente agora, não quero ficar longe das crianças. Já fico deprimido quando fico longe deles, mesmo que por algumas horas, como essas para atender a imprensa. Minha filha perguntou para a minha mulher umas 20 vezes, ‘Onde está o papai? Quando é que ele vem?’. E isso foi apenas porque passei algumas horas longe. Então é difícil eu sair. Eu tive que deixar bem claro para os promotores e empresários que não vamos sair em turnê por mais tempo que o definido. Eu não quero fazer isso, não me deixaria feliz. Não sei como as pessoas fazem isso. Eu tenho um grande respeito por pessoas que são capazes de separar as coisas e ir fazer as coisas delas, mas eu não posso fazer isso. Eu não ficaria muito feliz”, afirma.

O bate-papo, que seria brevemente por apenas dez minutos, chega a meia hora. Antes de me despedir, mostro uma foto tirada em sua primeira vinda ao Brasil, em que ele brinca com um cacho do meu cabelo como se fosse seu bigode. Ele acha graça e se despede com um “poderia falar com você o dia todo, Marina”, deixando esta repórter fã aqui ainda mais feliz.

Michael Bublé (Foto: Warner Records)
Michael Bublé (Foto: Norman Jean Roy)

Fonte Revista Quem

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