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‘Vitória’, com Fernanda Montenegro, dá roupagem brasileira a elementos do cinema de Hitchcock e Eastwood

foto: divulgação
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Filme estreou nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13)

Vitória, filme com Fernanda Montenegro que estreou nos cinemas nesta quinta-feira (13), é uma obra poética e catártica que incorpora à realidade brasileira elementos célebres em longas de James Stewart (como Janela Indiscreta e Um Corpo que Cai) e Clint Eastwood (um indivíduo que luta contra uma série de pessoas ou contra o sistema).

No filme, Fernanda é Josefina, uma idosa que decide comprar uma câmera para filmar os crimes que acontecem bem em frente ao seu apartamento, ao lado de uma favela. Ela não confia nem mesmo no sistema policial para ajudá-la. É uma cidadã que usa sua única arma, uma filmadora, contra o mundo.

Josefina tenta fazer o melhor, mesmo tendo certos preconceitos. Porém, ela nunca é injusta. Se a polícia faz “corpo mole” para o que ela mostra, a senhora não hesita em procurar outras pessoas para ajudá-la, sejam elas autoridades dos mais altos escalões ou moradores da comunidade.

A fotografia a acompanha a saga de Josefina de maneira próxima, sempre fechando os planos na protagonista, como se o peso daquele mundo e de sua situação complicada recaísse sobre seus ombros diariamente, sendo quase uma representação de Atlas na realidade brasileira.

Aos 95 anos, Fernanda compactua com esse nível trágico e senil, assim como Eastwood em longas como Cry Macho ou Gran Torino. Ela ataca os criminosos ao filmá-los e repassar essas imagens para um jornalista, mesmo com o envolvimento da polícia em atividades proibidas e esquemas ilegais.

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Mesmo com a câmera se fechando na atriz, ainda há espaço para uma direção de arte que brinca com o tropicalismo nacional. Paisagens belas compõem as imagens, um mundo visualmente agradável muitas vezes toma conta do cenário, mas a personagem principal não pode se aproveitar dele — assim como o espectador, ao ter os planos fechados em Fernanda — porque as pessoas que a cercam representam um perigo para sua resistente existência.

Quando Josefina, que vai se transformando na figura de Vitória, atua filmando seu entorno e o denunciando, as configurações do cinema de Alfred Hitchcock entram em cena. Uma protagonista que observa e não pode fazer nada além dessa ação, estabelecendo um ato de observar sem ser observada, assim como Stewart em suas obras-primas cinematográficas.

Fernanda Montenegro e a direção de Andrucha Waddington, genro da atriz (ele é casado com Fernanda Torres), buscam tais inspirações constantemente, seja pelo olhar cansado, mas persistente, da mulher ao se deparar com o errado.

O movimento lembra Eastwood, seja pelos atos de observação do crime e documentação secreta dos delitos apresentados, retomando ideias voyeuristas de Hitchcock e Stewart.

Mesmo com tais elementos hollywoodianos, a nacionalidade e a brasilidade não se perdem nesse potente filme, que usa os cenários para misturar temáticas voyeuristas, pós-faroestes e brasileiras que circundam essa história.

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Vitória traz uma figura trágica, com uma realidade constantemente presenciada no território nacional, e desafia todos com uma interpretação de Fernanda Montenegro que transmite sensibilidade na própria aparência sensata de uma delatora de crimes.

Ao final, mesmo mesclando diversas ideias de um cinema mais clássico com o contemporâneo, o longa sabe concatenar tudo o que se propõe e utiliza Fernanda da mesma forma que Eastwood em seus últimos filmes. Trágico, mas com um senso esperançoso em meio à tragédia.

Fonte R7

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