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“Jurassic World: Domínio” conclui a franquia de forma fraca e nem a nostalgia salva dessa vez

Foto: Divulgação/Universal Pictures
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Terceiro filme da trilogia Jurassic World tenta resgatar protagonistas clássicos para finalizar com chave de ouro, mas não consegue nem chegar perto do que a franquia merecia

Revisitar franquias do passado é, com certeza, um negócio muito lucrativo para Hollywood.

Já falamos aqui sobre o mercado da nostalgia e como o retorno financeiro dessas continuações, remakes e reboots não está aliado à qualidade e, infelizmente, Jurassic World: Domínio é mais um desses casos de continuação caça-níquel.

O sucesso está praticamente garantido, já que os dois filmes antecessores passaram de 1 bilhão de dólares de bilheteria, mas isso não deveria ser uma muleta para justificar um roteiro tão fraco, que só apela para a nostalgia e efeitos especiais para mascarar a fragilidade de uma história que já estava esgotada antes mesmo de começar a ser contada.

Em Jurassic World: Domínio, Owen (Chris Pratt) e Claire (Bryce Dallas Howard) embarcam em uma missão para resgatar a filha Maisie (Isabella Sermon), sequestrada a mando do empresário Lewis Dodgson (Campbell Scott), vilão que esteve lá atrás no primeiro Jurassic Park, chefão da BioSyn e responsável pelas maiores pesquisas genéticas com os dinossauros e com humanos.

Paralelamente, protagonistas do filme original – Ellie Sattler (Laura Dern) e Alan Grant (Sam Neill) – se reúnem para denunciar a manipulação genética de uma espécie extinta de gafanhotos, uma praga que ameaça a cadeia alimentar mundial.

Foto: Divulgação/Universal Pictures

Jurassic World, mas sem world

A ideia inicial era mostrar como a vida no planeta Terra estava se adaptando à destruição da ilha Nublar e como andava a convivência entre a humanidade e os dinossauros. A ideia é muito boa e promissora, mas fica por aí.

Em vez de se aprofundar na questão ambiental, nos problemas causados pelo retorno de pragas como os gafanhotos gigantes, na coexistência entre dinossauros e seres humanos e como os dinossauros estavam se adaptando ao mundo moderno, Colin Trevorrow, diretor e um dos roteiristas, resolveu concentrar a narrativa em uma aventura que acontece… em um parque fechado! De novo!

Desperdiçado o potencial de mostrar algo inédito, era de se esperar uma repetição de tudo o que já foi visto antes e ainda um regresso em relação a alguns aspectos, como a jornada de personagens como Owen e Claire, que parecem ter desaprendido tudo o que evoluíram nos filmes anteriores.

Além disso, a insistência em manter algumas características para dar uma sensação de unidade à franquia cria momentos embaraçosos, como a forçada participação de Blue, a velociraptor “amiga” de Owen, que não acrescenta em absolutamente nada à história. Há apenas uma conexão de um dos elementos desse “núcleo” com a narrativa em si, mas só é mencionada no terceiro ato e não é lá muito crível.

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Foto: Divulgação/Universal Pictures

Falta de memória para o próprio livro de regras

Antes que alguém diga “é uma ficção, não precisa ser realista em tudo”, há uma grande diferença entre ser fictício e ser crível: para fazer sentido, este precisa respeitar as regras do próprio universo, mesmo que fantasioso, enquanto àquele basta criar as normas às quais deverá se encaixar.

Em Jurassic World: Domínio, muitas regras são criadas e, em vez de soluções, novas regras vão se sobrepondo. É uma bagunça.

Espécies de dinossauros de regiões bizarramente distantes e de períodos históricos diferentes coexistindo, por exemplo, vão incomodar majoritariamente pessoas que têm esse conhecimento prévio. No entanto, tanto esse público específico quanto o geral vão estranhar a queda de um avião sucateado na qual ninguém sequer adquire uns arranhões. Nada, todo mundo ileso como se tivessem saído de uma queda de bicicleta.

Dinossauros no século XXI são fictícios mas dá para acreditar; um avião que cai sem consequências, por sua vez, é absurdo, assim como várias sequências ao longo de todo o filme. É o superpoder “escudo do roteiro”, que boa parte dos filmes de ação dá aos seus personagens e que é terrível para qualquer história.

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Foto: Divulgação/Universal Pictures

A ruindade complexa

Jurassic World: Domínio subestima os espectadores ao tentar pintar uma imagem de ficção científica profunda e complexa, com vários termos científicos e explicações acadêmicas, mas se esquece de que é o sexto filme de uma franquia e a bilionésima produção de ação e aventura assistida pelo seu público. Nada ali é novo e, muito menos, difícil de entender.

Colin Trevorrow parece achar que nenhum dos seus espectadores assistiu a algum filme do gênero antes, utilizando clichês mega batidos em cenas que poderiam ser épicas. Além disso, há facilitações de roteiro para beneficiar os mocinhos dignas dos filmes mais baratos da Sessão da Tarde (como a cena do avião, já mencionada). Não há descrença suficiente nesse mundo que dê para suspender ao ponto de relevar Jurassic Park: Domínio.

Diálogos muito rasos e uma enxurrada de frases de efeito dificultam a conexão entre com o público e entre os próprios personagens. O único momento em que a intenção da direção funciona é o alívio cômico representado por Ian Malcolm (Jeff Goldblum), justamente quando faz piada sobre as inconsistências da própria franquia. Mirou no humor e acertou na crítica certeira.

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Foto: Divulgação/Universal Pictures

Nem novo, nem clássico

Uma aposta clara da produção é na nostalgia criada pelo retorno dos protagonistas e do vilão. O tão aguardado encontro entre as gerações das décadas de 1990 e 2010 finalmente aconteceu, mas não foi nada como o esperado.

Jurassic World: Domínio junta o que há de pior na trilogia clássica e na nova para criar uma conclusão insossa à franquia e não apenas não funciona como homenagem às origens, mas ainda piora o que havia sido criado de bom.

É triste ver um blockbuster entregar tantas coisas erradas tão pouco tempo depois de vermos Top Gun: Maverick mostrar exatamente como se faz. Além de tudo, Jurassic Park: Domínio deu azar de estrear tão próximo da sequência protagonizada por Tom Cruise. 

Morre a inesquecível franquia (ou não, porque Hollywood dificilmente deixará seus dinossauros dos ovos de ouro descansarem em paz).

Fonte Tenho mais discos que amigos

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