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Conheça Vitória Bueno, bailarina que é destaque internacional: ‘Sinto que tenho braços invisíveis’
Vitória Bueno é de Santa Rita do Sapucaí, em Minas Gerais, e nasceu com má formação congênita e sem os dois braços.
Com apenas 18 anos de idade, Vitória Bueno está conquistando o Brasil e se tornando destaque internacional. Quando dança, a bailarina mineira parece flutuar nos palcos e emociona com a leveza e delicadeza de seus movimentos. A deficiência física é apenas um detalhe diante do seu talento.
Vitória é de Santa Rita do Sapucaí e nasceu com má formação congênita e sem os dois braços. Sem eles, a bailarina aprendeu a utilizar os pés para todas as atividades do dia a dia. E para quem pensa que ela “sente falta” das mãos, está muito enganado.
“Não tem como sentir falta de algo que você nunca teve. Já adaptei minha vida assim. Tudo o que as pessoas fazem com as mãos, eu faço com meu pé. Minha mãe fala que foi muito natural e que, na minha primeira mamadeira, eu já fui logo levantando as perninhas e pegando com o pé”.
Essa habilidade despertou logo o interesse dela pela dança. Aos cinco anos ela foi apresentada ao ballet clássico por uma das fisioterapeutas da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), que viu que aquela pequena menina dançante poderia ter um futuro promissor.
A fisioterapeuta tinha assistido um vídeo de uma bailarina americana sem os dois braços e que dançava há cinco anos. Ela conhecia uma academia de dança na cidade e incentivou a mãe de Vitória a levá-la para uma aula experimental.
Naquele dia ela não sabia que aquela seria a primeira de muitas outras e que a paixão traria muitas conquistas para a filha.
“Ela estava um pouco insegura porque sabia que o ballet exigia bastante dos braços e não sabia como o pessoal iria me receber. Eu lembro que eu cheguei e foi muito mágico! Daquele dia em diante eu sabia que era aquilo que eu queria fazer para o resto da vida”, conta Vitória.
De lá pra cá são 13 anos como bailarina. A preocupação da mãe com o entrada da menina no ballet ficou no passado. Logo ela conseguiu encontrar seu próprio ponto de equilíbrio.
“Como eu já nasci sem os braços, desde bebê meu corpo foi se adaptando para eu exercer todas as minhas atividades. No ballet, essa não foi uma grande dificuldade, mas sempre minhas professoras me auxiliam e orientam em um exercício que eu ainda não conheça. Elas me ensinaram também a acompanhar os movimentos do braço com a cabeça, então sinto que tenho braços invisíveis”.
Destaque internacional
Vitória conquistou medalha de ouro em todos os exames de grau que prestou na metodologia de ensino de ballet inglesa Royal Academy of Dance. Mas sua maior conquista até o momento aconteceu no fim do ano passado, na Alemanha.
A bailarina ficou em segundo lugar em um programa de talentos em um canal de televisão alemão. Ela havia recebido o convite para o concurso por meio dos produtores do programa. Vitória foi a única brasileira a participar do concurso.
Assim como os outros participantes, ela fez o processo de seleção. A primeira fase aconteceu em agosto do ano passado. Com uma coreografia de jazz lírico e uma música da Beyoncé, que fala sobre deixar sua marca e legado no mundo, ela emocionou os jurados e conquistou o direito de ir direto para a final do concurso.
“Eu tive a grande honra de receber o botão dourado. Eu não precisei voltar para a semifinal. Eu nem acreditei quando apertaram. Na verdade foi o apresentador que apertou o botão. Apenas quatro apresentações ganharam esse direito de ir para a final diretamente. Eu fiquei anestesiada. Comecei a chorar, me joguei de joelhos no chão. Todo mundo me aplaudiu de pé”.
Depois de toda esta emoção, ela se preparou para a final, em dezembro do ano passado. A coreografia foi de ballet clássico, mas um com toque brasileiro. No meio da apresentação, ela trocou de roupa e partiu do ballet para o samba na sapatilha de ponta.
“Deu tudo certo. Não ganhei, mas fiquei em segundo lugar com 20% dos votos. Quem podia votar eram apenas os moradores da Alemanha. Eu nem acreditei. Num outro país, as pessoas nem me conheciam e já foi uma grande vitória ter ficado em segundo lugar, uma grande realização, um momento que vai ficar guardado na memória”.
Capacitismo
Mesmo se destacando como bailarina, a deficiência de Vitória, para algumas pessoas, é às vezes maior do que as habilidades e talento que ela possui. A jovem faz questão de reforçar que as conquistas ao longo dos 13 anos de ballet e jazz são frutos do esforço e dedicação que ela emprega nas aulas.
“Para muitas pessoas, já passaram pela cabeça delas, eu conquistei isso porque eu não tenho os braços, por dó, bem capacitista. Mas eu vejo que tudo o que eu conquistei foi por esforço e dedicação. Minha deficiência sempre foi só um detalhe, nunca me impediu de fazer nada. Tudo o que eu quis eu sempre corri atrás. Para mim, ela não está aqui para me impedir de fazer as coisas, mas para lutar por elas”.
Vitória ainda contou que as pessoas têm curiosidade para saber como ela faz as atividades do dia-a-dia.
“Eu não me incomodo, mas no começo era mais difícil. Eu saia na rua e as pessoas ficavam encarando. O que mais me deixava triste eram os comentários maldosos, o julgamento. Mas eu tive que aprender a lidar com isso. Eu não ligo de explicar, eu prefiro que me pergunte do que ficar de cochichinho”, afirmou.
Planos para o futuro
Este é um ano importante para a bailarina. Ano de formaturas. Em 2022, ela termina o ciclo escolar com a conclusão do ensino médio e também finaliza a metodologia da academia de ballet.
Para o futuro, Vitória pretende cursar faculdade de dança. Com apoio da família, o projeto dela é viver daquilo que ela mais gosta.
“Eu me vejo dançando em vários lugares, me apresentando em outras cidades, conhecendo lugares incríveis, podendo levar arte para o mundo”, finalizou.