São Paulo
Do ensino público de SP ao Japão: professor transforma paixão pela língua japonesa em oportunidade
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José Matheus Tavares dos Santos, professor na Baixada Santista, participou do programa de estágio em Toyama; Seduc-SP abriu nova seleção
O professor José Matheus Tavares dos Santos é um exemplo de como o ensino público e a paixão pela educação podem abrir portas internacionais. Aos 35 anos, ele é professor de língua portuguesa e japonesa na rede estadual de São Paulo e teve sua vida transformada pelo Programa de Estágio para Promoção da Convivência Multicultural na Província de Toyama.
Sem ascendência japonesa, José Matheus se destacou no aprendizado do idioma e se licenciou em letras português e japonês pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) em 2010. “Sempre fui aluno da rede estadual e muito interessado em línguas. Estudei espanhol no CEL durante o Ensino Médio, sem imaginar que um dia daria aulas ali”, relembra.
Em 2019, começou a dar aulas de japonês no Centro de Estudos de Línguas (CEL) da Escola Estadual Martim Afonso, em São Vicente. Sua dedicação ao ensino da língua japonesa o levou a ser selecionado para o estágio em Toyama em 2023, onde passou um ano imerso na educação japonesa.
A experiência no Japão e o impacto na educação
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Ao ser selecionado para o programa, José Matheus viu a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos e atuar diretamente em escolas japonesas. “Finalmente, poderia conhecer um dos sistemas educacionais mais valorizados do mundo, acompanhando de perto alunos e professores”, conta.
Em Takaoka, na província de Toyama, ele trabalhou na Escola Elementar de Nomura e auxiliou alunos brasileiros na Escola Makino. Também foi voluntário na ONG educacional Alece, ajudando estudantes do Ensino Médio. “Aprendi que a educação é um instrumento de mudança social, mas que essa mudança real exige articulação entre diversas áreas do poder público”, reflete.
Ao voltar ao Brasil, sua experiência internacional lhe garantiu um papel de destaque na Diretoria de Ensino de São Vicente, atuando na implantação, na região, do programa Prontos pro Mundo, que envia alunos da rede estadual para intercâmbios em países de língua inglesa. Atualmente, ele está novamente no Japão, conduzindo uma pesquisa em educação multicultural na Universidade de Educação de Tóquio.
Inscrições abertas para o Programa de Estágio em Toyama 2025
Professores da rede estadual de São Paulo têm a chance de seguir os passos de José Matheus. As inscrições para o Programa de Estágio em Toyama 2025 estão abertas até 21 de fevereiro. O programa, promovido pelo Governo da Província de Toyama em parceria com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP), oferecerá a um professor da rede a oportunidade de atuar por um ano em uma escola japonesa, auxiliando alunos brasileiros e aprendendo sobre o sistema educacional do país.
O estágio inclui assistência nas aulas de língua japonesa, observação de aulas, acompanhamento de estudantes, tradução e interpretação. Todas as despesas com passagens, transporte no Japão, seguro e uma bolsa mensal serão custeadas pelo governo japonês. Os interessados devem ser professores efetivos da Seduc-SP e possuir proficiência em japonês equivalente ao nível N3 do Exame de Proficiência em Língua Japonesa (JLPT).
As entrevistas devem acontecer entre 26 de fevereiro e 7 de março na Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação (Efape), em São Paulo. O embarque do selecionado deve ocorrer em julho de 2025.
Uma inspiração para novos professores
Para José Matheus, sua trajetória reflete a importância da educação pública na transformação de vidas. “Não sei se posso inspirar os estudantes dos CELs a se tornarem professores, mas sei que sem a educação pública, o menino da periferia da Baixada Santista não estaria hoje apoiando estudantes brasileiros do outro lado do planeta”, conclui.
No ano passado, a professora da rede selecionada foi Juliana Mariko Shimoda. Recentemente, Juliana compartilhou sua experiência com a equipe do programa. Ela está no Japão e deve retornar no fim deste semestre. “Atualmente, presto assistência e apoio a crianças estrangeiras que necessitam de suporte mais detalhado no aprendizado de japonês e outras matérias em uma escola de ensino fundamental na cidade de Takaoka. Há muitas nacionalidades diferentes, como brasileiros, paraguaios, chineses, iranianos e paquistaneses”, diz.
“Tenho uma filha de 9 anos e conversamos por videochamada todos os dias. Sinto muita falta dela, mas quando estou triste e converso com ela, me dá vontade de melhorar, de ser uma professora melhor, de ser uma professora mais útil, e me dá vontade de trabalhar cada vez mais. Tenho que fazer o sacrifício de morar longe dela valer a pena. Para tanto tenho que ser forte e me esforçar o máximo possível. Sei que todo o conhecimento e enriquecimento cultural que adquiri durante esta estadia não só me tornará uma profissional mais bem preparada, mas também um ser humano mais determinado e mais sábio”, complementa.O regulamento do programa e a ficha de inscrição estão disponíveis no portal da Efape, neste link.