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Galpão 1 – Erika Novachi estreia trabalho sobre a Imigração Japonesa em Indaiatuba, dia 5 de julho

Entre partidas e chegadas, saudade e descobertas, dores e encontros, gratidão e despedida, “arigatô… sayonara”, atravessa oceanos e o tempo para contar, por meio do gesto, a trajetória dos imigrantes japoneses no Brasil. Inspirado na linhagem familiar da diretora artística do grupo Erika Novachi, cujos avós deixaram o Japão ainda jovens para recomeçar suas vidas em terras brasileiras, a obra mergulha nas emoções dessa travessia e será apresentada em Indaiatuba, no dia 5 de junho, sábado, no CIAEI, às 20h. A
entrada é gratuita.
Com coreografias de Erika Novachi, Jhean Allex, Lenon Vitorino e Mary Santos a obra une a força da dança contemporânea, do jazz dance e do lyrical jazz, para transformar e registrar memórias em movimento. Uma dança que revela resistência e pertencimento e é uma celebração da força, da tradição e da transformação, revelando que as histórias de nossos antepassados ainda dançam e vivem em nós.
“Sou sansei, neta de japoneses que chegaram ao Brasil com sonhos na bagagem e raízes profundas no coração. Nasci em solo brasileiro, mas cresci imersa na cultura oriental. Aqui, sempre fui chamada de “japonesa”. Mas quando estive no Japão, ouvi pela primeira vez: “dekassegui”. Estrangeira e durante muito tempo vivi esse entrelugar: não completamente daqui, nem de lá. Era como se eu não pertencesse a nenhum dos mundos e foi entre memórias familiares, tradições e minha própria história, que fui encontrando meu lugar. Eu não era completamente brasileira. Tampouco era completamente japonesa. Mas era profundamente as duas coisas. Eu carrego, no corpo e na alma, um legado precioso – feito de gestos contidos, de silêncio que fala, de resistência disfarçada de doçura”, rememora a coreógrafa.
Segundo Erika Novachi foi “ao conhecer o Japão que entendi a profundidade da minha identidade. Percebi que não sou metade de nada. Sou inteira: fruto da resistência dos meus avós, da acolhida brasileira e da fusão de duas culturas que se entrelaçam dentro de um corpo. Sou neta de quem cruzou oceanos sem saber o que encontraria, mas levando consigo toda uma cultura nas mãos. Eu sou filha do deslocamento, sou o elo. O recomeço”. Para ela o espetáculo arigatô… sayonara nasce desse lugar de emoção profunda, “do meu desejo de transformar essa busca por pertencimento em dança. É minha forma de agradecer aos antepassados, de honrar os que vieram antes de mim, de reverenciar suas dores e conquistas, e de afirmar, dançando, que nossa história continua viva. Porque ela pulsa no meu corpo. E dança comigo”.
Em 2025, celebra-se os 120 anos do tratado de amizade Brasil-Japão, que marcou o início da imigração japonesa para o Brasil. O tratado foi assinado em 1895, e em 1908 chegou ao Brasil o navio Kasato Maru com os primeiros imigrantes japoneses. Essa imigração, que teve seu ápice entre 1908 e 1960, resultou na formação da maior comunidade japonesa fora do Japão, com cerca de dois milhões de descendentes no Brasil, segundo o Ministério das Relações Exteriores do Japão.
“Brasil e Japão: dois mundos, uma dança contínua. Habitamos inteiros sem deixarmos de ser dois em um. A cultura permanece na terra, na memória. Ela não perde. Se move, se renova, se transforma. Vive no corpo. Dança. arigatô… sayonara, sayonara, arigatô…”, finaliza Erika.
CIRCULAÇÃO
Depois de Indaiatuba o trabalho ainda deve passar por Barueri (13 de julho), Ribeirão Preto (17 de agosto), Cerquilho (24 de agosto), Jacareí (30 agosto), Salto (19 de setembro), Marília (20 de setembro), Garça (21 de setembro) e Votorantim (1 de novembro). Todos com entrada gratuita.
ACESSIBILIDADE
arigatô… sayonara também se destaca por sua acessibilidade comunicacional, oferecendo recursos como audiodescrição e janela de Libras, para garantir que todas as pessoas possam ter acesso a apresentação. Segundo a diretora, a inclusão sempre foium valor fundamental no nosso trabalho. “Queremos que todos possam se conectar com a mensagem do espetáculo, independentemente de suas condições sensoriais. A dança é uma linguagem universal, e por meio desses recursos, podemos garantir que ela
realmente seja acessível a todos. Isso é parte essencial da nossa missão artística”, fala Erika.
SAIBA MAIS SOBRE A OBRA
“arigatô… sayonara” é dividido em cinco partes. A primeira versa sobre o Japão Tradicional: A Quietude das Origens, quando o Silêncio é Sagrado, que é o momento dos gestos contidos e olhos voltados ao céu, quando o corpo se enraíza nas tradições. É o Japão dos ancestrais, onde cada movimento carrega séculos de sabedoria. Essa primeira parte é uma reverência à terra natal, à cultura que molda o espírito antes mesmo de partir. A segunda parte traz as Despedidas e Travessia do Mar: O Adeus que Nunca se Despede, é o momento da partida, feito de silêncios que gritam e lágrimas não cabem em malas. São mãos que se soltam, olhares que se perdem no horizonte e o corpo que se lança rumo ao desconhecido. A travessia não é apenas geográfica — é emocional, espiritual. O mar — imenso, incerto e profundo — se torna estrada e sepulcro. Nesta parte, a dança é travessia: pulsa o medo, o arrependimento, a coragem.
A terceira parte traz a Tristeza e Insegurança: Morrer para Renascer. Chegar não é o fim da jornada, é o início da perda de si. A dor da língua que não se fala, da comida que não tem cheiro de infância, do rosto que destoa, dos olhares atravessam com desconfiança. O corpo carrega o peso de uma identidade que começa a esmorecer. Mas em meio à dor, algo germina. Esta parte é o mergulho no escuro da alma, onde a esperança se transforma em resistência. É sobre a força invisível que nos faz seguir, mesmo quando a
alma pede abrigo. A quarta parte versa sobre as Mãos Que Se Estendem: Onde o Outro é Casa. Nas colônias, a solidão encontra companhia, os laços não são de sangue, mas de sobrevivência. Amigos tornam-se família, e o trabalho coletivo revela a dignidade, a generosidade do ombro amigo que sustenta e acolhe. É o momento de comunhão. É o tempo do coletivo, aonde a cura vem no outro. As dores continuam — mas agora, partilhadas, pesam menos.
A quinta e última parte Entre Dois Sóis: Sou Feita de Encontros, mostra que depois de tantas travessias, descobre-se que o povo não é metade. Eles são inteiros de coragem, feitos da soma das águas que cruzaram, das culturas que atravessaram. Não são nem daqui, nem de lá — são de onde o coração encontrou sentido. O Japão pulsa no coração, o Brasil vibra nos pés. O gesto já não é só memória: é identidade, é ser ponte, passagem e permanência. Eles dançam com o que foram, com o que se tornaram e o que ainda serão. É reconhecer que as raízes não os prendem, mas os sustentam. E que a identidade
verdadeira não é uma bandeira, mas um corpo em movimento.
DIREÇÃO ARTÍSTICA | ERIKA NOVACHI
Erika Novachi é professora e coreógrafa de lyrical jazz. Diretora artística da Galpão 1 é formada em Educação Física e teve como grande mestra Rose Calheiros. Foi secretária de cultura da cidade Indaiatuba de 1997 a 2018. Ministra materclasses e residências de lyrical jazz no Brasil e no exterior, com passagens como professora convidada pela na Broadway Dance Center, em Nova York (2017), pela Crossroads of Arts, em Los Angeles, Califórnia (2018) e pela West London University, na SA Dança, em Londres, Inglaterra (2018). Entre 2010 e 2014, 2023 e 202 foi professora de lyrical jazz, no Festival de Dança
de Joinville, onde também foi jurada do gênero. Seu grupo participou como convidado em diversas aberturas do Passo de Arte Grand Prix nas noites de jazz. Entre suas últimas criações destacam-se: um trecho de “Concerto Berstein 100” (2018) para a São Paulo Companhia de Dança, “Music, Body and Soul” (2021) para a Raça Cia de Dança dentro do Projeto Raça por Elas e “Sobre Nós” (2024), para a Galpão 1 Erika Novachi. Já ministrou uma residência de lyrical jazz na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil e em
Summers e Winter da Royal Academy of Dance no Brasil. No ano de 2023 fez parte da Consultoria de Formação do 40° Festival de Dança de Joinville e foi uma das curadoras do eixo de Extensão Cultural da São Paulo Escola de Dança (2023-2024). É uma das diretoras e organizadoras do Congresso Internacional de Jazz Dance no Brasil, criado em 2009.
SERVIÇO: arigatô… sayonara sayonara, arigatô… com a Galpão 1 Erika Novachi. Dia 5 de julho, sábado, às 20h, Sala Acrísio de Camargo (CIAEI) (Av. Engenheiro Fábio Roberto Barnabé no 3.665) Entrada gratuita. Duração: 60 minutos. Classificação livre. Espetáculo com recursos de audiodescrição e libras.
Este projeto foi aprovado pelo PROAC Ed 23/2024 do Estado de São Paulo. Produção e espetáculo de dança inédito.