Economia
Dólar vai abaixo de R$ 4,85 em sexto dia seguido de desvalorização
Com a guerra na Ucrânia prestes a completar um mês, investidores têm mostrado preocupação com a possível falta de alimentos no mundo, o que elevou o preço das commodities
O dólar acelerou a queda nesta quarta-feira (23), chegando a ir abaixo dos R$ 4,85 nas mínimas do pregão –seu sexto seguido de desvalorização– à medida que investidores continuavam a enxergar ambiente doméstico atraente para investimentos.
Às 11:38 (de Brasília), o dólar à vista recuava 1,27%, a R$ 4,8529 na venda. Na mínima do dia, a moeda chegou a cair 1,41%, a R$ 4,8458 na venda, e, caso mantivesse esse preço até o fim dos negócios, registraria o menor patamar para um encerramento desde 13 de março de 2020 (R$ 4,8128).
Na B3, às 11:38 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 1,24%, a R$ 4,8640.
O recuo desta quarta-feira vem depois de, na véspera, a moeda norte-americana à vista já ter caído pelo quinto pregão seguido, marcando a maior sequência do tipo desde uma série de sete baixas finda em 22 de abril de 2021. Na terça-feira, o dólar fechou cotado a R$ 4,9153, mínima desde 24 de junho de 2021 (R$ 4,9062).
Robin Brooks, economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), chamou a atenção para o fato de a moeda brasileira ter fechado a véspera numa máxima em 9 meses frente ao dólar. “Naquela época (junho passado), o rali veio quando os mercados se concentraram na grande desconexão entre os preços altíssimos das commodities e um real muito fraco”, afirmou em post no Twitter.
“É o mesmo agora, só que supercarregado”, acrescentou, dizendo enxergar os R$ 4,50 por dólar como patamar “justo” para a taxa de câmbio.
Com a guerra na Ucrânia prestes a completar um mês, vários investidores têm mostrado preocupação com possível interrupção da oferta de commodities, o que impulsionou o preço de produtos do milho ao petróleo desde o fim de fevereiro.
Nesse contexto, ativos de países exportadores de commodities vistos como menos vulneráveis às tensões geopolíticas, como os da América Latina, parecem ter se beneficiado. Outras divisas da região, como pesos chileno, peso colombiano e sol peruano, acumulam ganhos expressivos contra o dólar em 2022.
Nesta manhã, a tendência se repetia. “O dólar volta a assumir o modo ‘loser’ (perdedor) frente a divisas emergentes e ligadas às commodities em dia de nova alta do petróleo”, comentou Jefferson Rugik, da Correparti Corretora. O preço do barril do tipo Brent era negociado acima de 120 dólares nesta quarta-feira, alta de mais de 4%.
E o real está na liderança global no que diz respeito à valorização acumulada no ano, com o patamar elevado da taxa Selic, atualmente em 11,75%, servindo como impulso adicional à moeda local. Até agora em 2022, o dólar cai quase 13% ante o real.
Especialistas explicam que juros mais altos por aqui aumentam a rentabilidade do mercado de renda fixa, tendendo a atrair mais recursos estrangeiros para o Brasil e, consequentemente, reduzir o preço do dólar.
Como o Banco Central do Brasil se adiantou em relação a outras autoridades monetárias no início de seu ciclo de aumentos de juros, o real parece ter resistido bem até mesmo ao posicionamento mais duro do Federal Reserve no combate à inflação, que é visto como fator de impulso para o dólar.
O banco central dos Estados Unidos elevou os juros em 0,25 ponto percentual na semana passada, e algumas de suas autoridades têm repetido que estão dispostas a, eventualmente, aumentar a dose de ajuste para 0,5 ponto.
“Os investidores seguem atentos às possibilidades de altas de juros em um ritmo mais tempestivo” nos EUA, ressaltaram em nota especialistas do Bradesco.
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