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‘Meu filho morreu por causa do vape’, diz a empresária Lia Paiva

Diego Paiva — Foto: Divulgação
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Carioca radicada em Milão, ela criou uma marca de roupas para perpetuar o legado de Diego, vítima de infarto pulmonar, aos 20 anos, decorrente de uma septicemia

“Sou carioca, tenho 45 anos e desde os 20 moro em Milão; me casei bem jovem com o jogador de futebol Serginho (Sérgio dos Santos), que atuou no Milan, no Cruzeiro e na Seleção Brasileira. Naquela época, formávamos uma família de brasileiros na Itália, foram tempos muito felizes.

Campanha da D777: marca foi criada para financiar o Instituto Amor Infinito — Foto: Glauber Bassi
Campanha da D777: marca foi criada para financiar o Instituto Amor Infinito — Foto: Glauber Bassi

Sempre fui muito ligada em moda, amava me vestir. Para se ter uma ideia, minha mãe me chamava de ‘mãos de tesoura’, em alusão ao filme ‘Edward mãos de tesoura’. Adorava customizar as peças. Na Itália, me aproximei ainda mais do universo fashion. Mas jamais poderia imaginar o caminho tortuoso que me levaria a criar uma grife.

Tornei-me mãe aos 21 anos, com o nascimento de Nicolas; aos 23, Diego chegou ao mundo. E, mais de uma década depois, tivemos a nossa Gaia, hoje com 8. Ainda com os dois primeiros filhos bem pequenos, cursei faculdade de Moda em Milão.

Em 2009, quando meu marido parou de jogar bola, voltei com toda família para o Rio. Cheguei a abrir uma loja de objetos de design e de moda num shopping na Barra, mas não me adaptei ao Brasil. Três anos depois, voltamos para Itália e, logo depois, nasceu minha filha. A vida seguiu seu ritmo.

Na pandemia, passei a fazer decoração de interiores. Assinei a casa de diversos jogadores de futebol e fui muito bem-sucedida na atividade. Naquela época, todo mundo me perguntava por que não criava uma marca. A resposta só veio tempos depois.

O ano era 2024 e Diego tinha 20 anos. Era um jovem extremamente bondoso, generoso e atlético como o pai. Lutava jiu-jítsu e muay thai. Estávamos passando uma temporada no Rio, mas precisei ir a um casamento na Itália e na sequência passaria uns dias na Tailândia, numa ilha. Porém, por algum motivo, meu coração começou a apertar. Ao chegar à Itália, Diego me ligou dizendo que estava com uma dor no cotovelo. Em seguida, surgiu um furúnculo no braço. Ele utilizou um medicamento e tudo parecia estar resolvido.

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Campanha da D777: marca foi criada para financiar o Instituto Amor Infinito — Foto: Glauber Bassi
Campanha da D777: marca foi criada para financiar o Instituto Amor Infinito — Foto: Glauber Bassi

Poucas semanas depois, meu filho me telefonou reclamando, novamente, de muita dor no mesmo local, o cotovelo. Nisso eu já estava no avião, indo para a Tailândia. Nós dois choramos muito ao telefone. Ele falou palavras profundas, disse que não se sentia parte desse mundo.

Estava na Tailândia quando recebi outro chamado de Diego com a mesma queixa: dor no cotovelo. Ele contou ter se lesionado num golpe. Consegui que ele fosse a um médico. No hospital, fizeram exames de imagem como ressonância e raio-X. ‘Ele não tem nada, Lia’, me falou o ortopedista. Porém, as nossas dores não cessavam: a dele, no braço; a minha, no peito.

A do meu filho foi ficando mais e mais aguda. Então, pedi que minha mãe o levasse novamente ao hospital. Chegando lá, a saturação dele era de 46%, não de 96% como se esperava. Antes de ser entubado, Diego me falou pelo celular que eu era a pessoa mais importante da sua vida. Fiquei louca. Tinha de sair da tal ilha e ir ao encontro do meu filho. Virei a Tailândia ao avesso para conseguir voltar o mais rápido possível. Quando cheguei, o seu quadro estava melhor. Porém, cinco dias depois, sofreu um infarto pulmonar. Meu filho fumava, em excesso, cigarro eletrônico desde os 15 anos. Ele havia contraído uma bactéria, que se espalhou e fez septicemia. Outros órgãos reagiram, mas o seu pulmão, debilitado, não. Ele morreu devido ao uso do vape. Saí de mim.

Logo depois de sua morte, comecei a receber depoimentos de pessoas relatando a generosidade de Diego: ele dava de roupa a fogão para quem precisava, amava ajudar o próximo. Para conseguir seguir

Diego Paiva — Foto: Divulgação
Diego Paiva — Foto: Divulgação

em frente, lancei em outubro, no Brasil, o Instituto Amor Infinito, que apoia crianças em situação de vulnerabilidade. Patrocino a participação de jovens em campeonatos esportivos e, para financiar o Instituto, criei a marca de roupas D777, em homenagem ao meu filho. O estilo é o do Diego, street, e as cores, as neutras. Amigos e meu outro filho, que é meu sócio, foram fotografados para a campanha. Lancei a coleção em multimarcas na Itália e, no Brasil, no e-commerce (d777brand.com.br).

Me sinto abençoada em pegar essa dor profunda e transformá-la em amor ao próximo, do jeito que ele faria. É a minha maneira de perpetuar o seu legado. Volta e meia, Diego me ‘fala’ para acreditar e seguir em frente. Estou indo”.

Fonte O Globo

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