Internacional
Miss Piggy e Kermit: os dois aviões da década de 1970 que voam no olho dos furacões mais devastadores do mundo
“É como andar de montanha-russa num lava-rápido”, diz o chefe da equipe dos “Caçadores de Furacão”. Ideia é coletar dados a baixa altitude para entender estragos dos furacões. Furacão Beryl é o primeiro com esta intensidade a atingir o Caribe em um mês de junho. Previsão é a de que atinja Jamaica nesta quarta-feira e avance em direção ao México.
Apelidados de “Miss Piggy” e “Kermit”, dois aviões fabricados na década de 1970 têm a missão de entrar onde ninguém quer estar —no olho dos furacões mais devastadores do mundo. O objetivo é coletar dados atmosféricos e ajudar a prever a intensidade deles.
Entre esses furacões está o Beryl, que chega à Jamaica nesta quarta-feira (3). O furacão é de categoria 5 —o que significa um potencial de causar danos “catastróficos” e ventos iguais ou superiores a 252 km/h, segundo a escala Saffir-Simpson.
Kermit e Miss Piggy sobrevoaram o olho do furacão Beryl nesta terça, que tocou o solo no Caribe na segunda-feira (1º) e deixou mortos. Os apelidos são inspirados em personagens do desenho Muppet Babies —Kermit ficou também conhecido no Brasil como Caco.
As aeronaves são dois quadrimotores Lockheed WP-3D Orion, a serviço do governo americano desde 1976. No Brasil, os Electra, versão comercial dessa aeronave, ficaram conhecidos por voar na ponte aérea entre São Paulo e Rio até 1992. Eles voam a até 8.200 metros de altitude, a até 463 quilômetros por hora, e podem voar 11 horas e meia sem precisar abastecer.
Ambos integram os “Caçadores de furacões”, grupo de cientistas da Agência Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA, na sigla em inglês). Eles são usados é usado frequentemente pela NOAA para colher dados de tempestades tropicais, ciclones e furacões e fornecê-los a agências de previsão do tempo. Por isso, foi batizado pela própria agência de “caçador de furacões”.
As medições, segundo a NOAA, ajudam a compreender a estrutura de uma tempestade e os ventos que a orientam. As aeronaves têm sondas e radares que medem pressão, temperatura, umidade e vento. Os dados são usados em modelos de computador que ajudam os meteorologistas a prever a intensidade do furacão e onde e quando atingirá a terra.
“É como andar de montanha-russa em um lava-rápido, porque você não consegue ver nada pelas janelas na parede do olho [do furacão]. É como uma lavagem de carro. Na verdade, mesmo no meio do dia escurece dentro do avião”, disse Richard Henning, diretor de voo da NOAA, no mesmo vídeo.
As missões, segundo ele, levam entre oito e nove horas. As aeronaves preenchem uma lacuna tecnológica: por voar a baixa altitude, fornecem informações de furacões que não estão disponíveis em radares terrestres ou informações de satélite, de acordo com a NOAA.
Miss Piggy e Kermit já atuaram em missões no Atlântico, Caribe, Golfo do México, Ártico, Alasca e Pacífico.
Kermit, um dos aviões dos “Caçadores de Furacões” — Foto: Wikimedia Commons
Beryl
O furacão “Beryl“, que avança pelo Caribe, ganhou força e foi reclassificado como de categoria 5 — a maior na escala. Esta é a primeira vez que um fenômeno do tipo chega ao Caribe em um mês de junho já com essa força, o que fez autoridades preverem uma temporada de furacões severos na região.
O furacão já deixou seis mortos após tocar o solo, um deles em São Vicente e Granadinas, dois na Venezuela e os outros três em Granada, ambos países no sudeste do Caribe, segundo autoridades locais.
Classificado pelo Centro Nacional de Furacões dos EUA (NHC, na sigla em inglês) como “extremamente perigoso”, o Beryl ganhou mais força do que o inicialmente previsto e com mais velocidade, e pode atingir ventos de até 270 km/h.
O Beryl tocou solo na segunda-feira (1º) na ilha de Carriacou, em Granada. Logo depois, passou por São Vicente e Granadinas e Barbados. Agora, segundo um boletim do NHC desta terça-feira (2), se aproxima da Jamaica, onde deve passar na quarta-feira (3).
Durante a semana, o furacão continuará avançando pelo Caribe em direção à costa do México. No entanto, as autoridades projetam que o fenômeno perca força ao longo dos dias. Ainda assim, alertas foram emitidos para o Haiti, as Ilhas Cayman, Belize e para cidades que estão no sudoeste do Golfo do México.
Avião da Agência de Administração Atmosférica e Oceânica (NOAA) dos EUA faz voo dentro de olho do furacão Beryl, em 2 de julho de 2024. — Foto: NOAA
Barcos empilhados após passagem do furacão Beryl por Bridgetown, em Barbados, em 1º de julho de 2024. — Foto: Ricardo Mazalán/ AP
Homens puxam barco atingido por passagem de furacão Beryl em Bridgetown, em Barbados, em 1º de julho de 2024. — Foto: Ricardo Mazalán/ AP
O Beryl é o primeiro da temperada de furacões na região — que geralmente vai de julho a setembro — e o maior já registrado em um mês de junho na história do Caribe.
O furacão começou a se formar na última semana como uma instabilidade e foi ganhando força. Veja a cronologia:
- 🌪️ 25 de junho: começa uma instabilidade na atmosfera, favorecendo a formação de uma tempestade.
- 🌪️ 28 de junho: o que era uma instabilidade, ganha força seguindo em direção ao Caribe e se transforma em uma tempestade tropical. Até aqui, a previsão era de ventos de 56 km/h.
- 🌪️ 30 de junho: passou a ser classificado como furacão e entrou na categoria 3 (de uma classificação que vai até 5).
- 🌪️ Ainda no dia 30 de junho: passou a categoria 4, com alerta de extremo perigo, com ventos de até 240 km/h.
- 🌪️ 1º de julho: reclassificado para a categoria 5.
Segundo o NHC, uma tempestade tão poderosa no início da temporada de furacões, que vai de junho ao final de novembro no Atlântico, é extremamente rara.
Especialistas afirmam que o Beryl ganhou essa proporção em tão pouco tempo por causa das águas ferventes do oceano. As temperaturas na região onde a tempestade se formou estão até 3°C acima da média.
No fim de maio, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) já havia adiantado que a temporada de furacões deste ano seria “extraordinária”, com até sete tempestades de categoria 3 ou superior.
Projeção indica caminho do furacão Beryl pelo Caribe — Foto: NHC/Reprodução
Fonte G1