Brasil
Música, lágrimas e plantio de árvore: ato homenageia as 62 vítimas da queda do avião da Voepass um ano após tragédia

Homenagem reuniu amigos e familiares das vítimas do maior desastre aéreo do Brasil desde 2007. Celebração ecumênica, discursos, apresentação musical e plantio de árvores fazem parte da programação.
Um ano após a queda do avião da Voepass que matou todas as pessoas a bordo em Vinhedo (SP), a cidade, onde o ATR 72-500 atingiu o solo depois de levar 81 segundos para cair, recebeu um ato neste sábado (9) em homenagem às 62 histórias interrompidas naquela sexta-feira fria de 9 de agosto de 2024.
A homenagem, realizada em uma igreja no bairro Mirante, foi organizada pela Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 2283. Além de parentes e amigos, o evento contou com autoridades envolvidas na apuração das causas do maior acidente aéreo do Brasil desde 2007. A aeronave saiu de Cascavel (PR) e tinha como destino o Aeroporto de Guarulhos.
Entre as autoridades, estiveram presentes representantes da Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Polícia Científica, Prefeitura de Vinhedo, Ministério Público, Defensoria Pública, Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), além o delegado-chefe da Polícia Federal de Campinas, Edson Geraldo de Souza, e o diretor do Instituto Nacional de Criminalística, Carlos Palhares.
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Ato homenageia as 62 vítimas da tragédia aérea de Vinhedo — Foto: Isabelly Godoy/g1
Durante a última semana, o g1 publicou reportagens especiais sobre a queda do avião da Voepass. Na quarta-feira (6), foi lançado no portal o web-documentário “81” segundos, que reconta o desastre e a dor das famílias. O filme, de 45 minutos, foi exibido também pela EPTV, afiliada da TV Globo, na sexta-feira (8).
A programação reuniu um ato ecumênico com representantes de diferentes tradições religiosas, homenagem oficial às vítimas, com discursos e apresentações musicais, entrega de placas a profissionais voluntários que atuaram nas operações de resgate e plantio simbólico de árvores pelos familiares.
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Homenagem aos familiares da tragédia aérea de Vinhedo — Foto: Gabriella Ramos/g1
‘Acalento’
Tanto na parte externa quanto interna do local da homenagem, fotos das vítimas, um mural e muitos arranjos de flores relembraram as 62 vidas perdidas há um ano.
“Esperamos que essa homenagem traga acalento. Porque no dia 9 de agosto as pessoas do voo 2283 interligaram as nossas vidas. As famílias, a imprensa, as instituições envolvidas, todos estamos interligados. Então hoje é dia de se abraçar, olhar no olho, e viver mais um dia dessa dor que a gente vive há 365 dias”, disse Adriana Ibba, mãe de Liz Ibba, de 3 anos e 10 meses, a vítima mais nova do acidente.
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Ato em homenagem às 62 vítimas da queda de avião em Vinhedo — Foto: Gabriella Ramos/g1
Esposa do copiloto Humberto Alencar, Rosana Maria Ferreira falou da emoção de viajar até Vinhedo nesta circunstância e reforçou a intenção do ato de homenagem as vítimas, que é para que cada uma das pessoas que perdeu a vida não seja esquecida.
“Do hotel até aqui eu vim de carro olhando para o céu. Sabendo o que ele passou aqui, sabendo que ele já procurava um lugar para pousar. É agoniante, é triste saber que eu tiver que vir aqui conhecer essa cidade nesta circunstâncias. Mas ele sabia o que estava fazendo e fez o que ele melhor pôde fazer para salvar a vida das pessoas. Ele deu a vida dele”, afirmou Rosana.
Durante a homenagem, entre apresentações musicais, familiares de vítimas fizeram discursos e leram cartas.
Vaias
Autoridades que atuaram no resgate e remoção dos destroços, além da investigação, receberam placas de homenagens.
No momento da entrega das placas ao diretor-presidente substituto da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Adriano Miranda, houve vaias por parte de quem estava na plateia. Veja no vídeo acima.
Relato exclusivo de ex-funcionário
O relato de um ex-funcionário que presenciou a última manutenção do ATR 72-500 acrescentou um fato novo às horas que antecederam a decolagem de Ribeirão Preto para Cascavel, em 9 de agosto de 2024. O conteúdo exclusivo foi um dos especiais publicados pelo g1 ao longo da semana.
Segundo a testemunha, que atuava no setor de manutenção da companhia, o piloto que utilizou a aeronave na noite anterior ao acidente relatou naquela data à equipe de manutenção que havia enfrentado problemas com o sistema de degelo do avião.
A falha, que deveria impedir a aeronave de decolar para Cascavel na manhã seguinte, foi omitida do diário de bordo técnico (TLB) e, por isso, ignorada pela liderança do hangar naquela madrugada.
TLB é a sigla para technical log book, um livro que registra as principais ocorrências mecânicas a bordo de uma aeronave. Esse tipo de documento é obrigatório pelas normas da aviação comercial de passageiros no Brasil e no exterior.
“Essa aeronave nunca tinha apresentado esse tipo de falha, né? Só que no dia do acidente, quando essa aeronave chegou de Guarulhos para Ribeirão, ela foi reportada verbalmente pelo comandante que trouxe ela. Foi alegado que ela tinha apresentado o airframe [fault] (alerta emitido quando há problema no degelo) durante o voo. E ela estava desarmando sozinha. Ele acionava [o sistema] e ela desarmava. Coisa que não poderia acontecer.” , afirmou a testemunha ao g1.
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Protesto de familiares das vítimas da queda de avião em Vinhedo — Foto: Gabriella Ramos/g1
Durante a homenagem, uma faixa feita pelos familiares dizia: “Não foi morte acidental. Foi assassinato. Queremos os culpados na cadeia”.
A Voepass, que está com a licença de voo cassada pela Anac por problemas de manutenção, afirmou que a segurança sempre foi prioridade da companhia e que “sempre atuou cumprindo com as exigências rigorosas que garantem a segurança das suas operações aéreas”.
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Famílias se emocionam em homenagem às vítimas da queda de avião em Vinhedo — Foto: Isabelly Godoy/g1
Plantio de árvore
Depois da homenagem, os familiares fizeram o plantio de um ipê branco para simbolizar a vida de cada uma das vítimas do voo 2283.
Fonte EPTV Campinas