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Internacional

O preço sujo da moda barata: como roupas descartadas estão envenenando o Quênia

Montanha de roupas em lixão no Deserto do Atacama, no Chile, em imagem de novembro de 2022
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Mais de 900 milhões de peças usadas são exportadas anualmente para o Quênia, gerando poluição, microplásticos e impacto social no maior lixão a céu aberto da África

Ao chegar ao lixão de Dandora, em Nairobi, capital do Quênia, é impossível não ser impactado pela imensa montanha de resíduos têxteis e plásticos, muitos deles provenientes de roupas descartadas que vieram da Europa, EUA, Reino Unido, Canadá e China. Todos os dias, milhares de pessoas — sem equipamentos de proteção — vasculham o local em busca de plástico e roupas que possam vender, sobrevivendo em condições precárias. Estudos apontam que mais da metade das roupas importadas são inservíveis e liberam microfibras plásticas que contaminam o meio ambiente e a saúde humana.

A rápida expansão do mercado da moda, impulsionada pela fast fashion e especialmente pela ultra-fast fashion, resulta em um fluxo crescente de roupas descartadas que não são feitas para durar. Essas peças muitas vezes contêm fibras sintéticas tóxicas e “químicos eternos” usados na produção, que ao degradarem-se liberam microplásticos e substâncias nocivas ao solo, à água e ao ar, ameaçando toda a cadeia alimentar. O lixão de Dandora e o Rio Nairobi, que passa pelo local, já estão contaminados por esse tipo de resíduo, afetando comunidades próximas.

França foi um dos primeiros países a agir contra essa crise ambiental ao aprovar, em junho de 2025, uma lei que proíbe publicidade de ultra-fast fashion e impõe uma classificação ambiental aos produtos têxteis. A legislação prevê penalidades financeiras para fabricantes de roupas com maior impacto ambiental, buscando conscientizar consumidores e induzir a compra de produtos mais sustentáveis. A proposta deve ser apresentada à Comissão Europeia, podendo virar padrão para toda a União Europeia.

Entretanto, especialistas alertam que o problema vai além do ultra-fast fashion e que a superprodução global deve ser combatida. Organizações como Éthique sur l’étiquette defendem ampliar a regulação para incluir toda a indústria da moda rápida, que contribui para o acúmulo de resíduos têxteis e para a exploração laboral em países produtores. A pressão por uma economia mais ética e sustentável cresce, acompanhando a urgência da crise ambiental evidenciada em lixões como o de Dandora.

Enquanto isso, comunidades vulneráveis continuam expostas aos riscos da poluição e da exploração no lixão de Nairobi, reforçando a necessidade urgente de soluções globais para o consumo consciente e a gestão dos resíduos têxteis. A crise da moda descartável revela conexões profundas entre produção, consumo, meio ambiente e justiça social que desafiam governos, empresas e consumidores no mundo todo.

Fonte G1

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