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Carnaval 2023: Portela levará cortejo de rainhas para a Sapucaí no centenário da escola
Escola reunirá musas que, cada uma ao seu estilo, marcaram época à frente da bateria da azul e branco. Encontro inédito promete ser um dos momentos emocionantes do desfile
Mais de três décadas de majestade estarão representadas no desfile da Portela, no fim da noite de segunda-feira. O momento, que gerou expectativas no ensaio técnico, promete ser um dos mais emocionantes do Grupo Especial. O desfile de centenário da azul e branco de Madureira exaltará rainhas de bateria que fizeram história na escola, com a participação de Adriane Galisteu, Edcléa Nunes, Luiza Brunet e Sheron Menezzes, além de Bianca Monteiro, que ocupa a posição desde 2017. Elas estarão juntas, sem competir, para contar uma história.
— Não tem por que ter medo de perder um espaço que nem é meu; é da escola. Hoje estou no posto, amanhã virão outras — afirma Bianca Monteiro, que teve a iniciativa de juntar as precursoras. — Não deixa de ser um protesto, de mostrar que não se aceita essa rivalidade feminina. A gente é comparada uma com a outra. Você abre as redes sociais e só vê críticas e ofensas. É muito triste. Todo mundo tem seu momento.
‘Juntas no poder’
Como não é possível levar para a Sapucaí todas as musas que passaram pelo posto, Bianca optou por convidar as que considera ter criado um elo mais forte com a bateria e com a comunidade. Apesar do time de ouro reunido pela primeira vez, Bianca não esperava tamanha repercussão. Já o apresentador e comentarista da TV Globo Milton Cunha chamou a ideia de revolucionária.
— É tão simbólico, tão inclusivo, tão feminista. São as mulheres juntas no poder — diz Milton, que ficou arrepiado ao vê-las juntas. — Mostra a diversidade do samba, a diversidade humana, de que a gente tem que aceitar as diferenças. Que cada um tem o seu samba e que cada corpo fala de um jeito. É assim que se faz num centenário: você resgata as partes vivas dessa história e homenageia as que faleceram.
Desde que a ideia foi lançada, as divas têm um grupo de WhatsApp em que compartilham dicas e expectativas para o grande dia.
— Todo mundo já está no clima. Para mim, nos ensaios desfilamos para nós mesmos, então, é como se fosse o grande dia. Sempre com muita dedicação e alegria — diz Sheron Menezzes. — É o centésimo aniversário da escola que é minha família.
Musa do enfrentamento à violência contra a mulher no carnaval da prefeitura do Rio, Luiza Brunet ficou radiante com o convite. Ela esteve por dois períodos na escola, em 1986 e 1987 e entre 1989 e 1994.
— Os ensaios da Avenida foram uma prévia, mas já mostraram o que será um pouco da real história — diz Luiza. — Fui a madrinha que mais tempo passou nesse posto, deixando um legado de valor e reconhecimento. Retornar à Portela no centenário é magnífico.
Rainha da Portela por oito anos, Edcléa Neves volta a desfilar na escola após 19 anos.
— Estou muito honrada em participar desse centenário. O coração está quase saindo pela boca — conta ela, que participou do emblemático desfile de 2004, quando Dodô veio a seu lado de madrinha de bateria, aos 83 anos. — Aquele ano me marcou. Agora, participo de outro momento importante da escola.
A Portela ainda faz mistério de como as musas virão. A expectativa é que, assim como aconteceu no ensaio técnico, haja um momento em que fiquem lado a lado. O mais provável é que isso ocorra quando a bateria entrar no Sambódromo, antes de ir para o primeiro recuo, no setor 2.
— Não temos um lugar certo. O importante é estar nessa comemoração tão linda que é o centenário — afirma Galisteu. — Não posso revelar como irei, mas garanto que é a cara do Carnaval e da Portela.
Após o encontro no desfile oficial, Bianca seguirá à frente da bateria do Mestre Nilo, e suas antecessoras serão encaminhadas para lugares representativos em outros momentos do enredo. Onde, porém, ainda é um enigma.
— Tomara que elas não percam essa primeira entrada juntas, porque é enriquecedor — conta Milton, que voltou no tempo ao ver as musas lado a lado. — Quando as vi entrando com a bateria, pirei. O painel que elas formam é espetacular: tem a indígena, a louraça, as negras. Isso é fabuloso.
Virtude nas diferenças
Milton frisa as diferenças entre elas como uma virtude. A elegância e o samba nas nuvens de Brunet; a criação de personagens interpretados por Galisteu, na escola de 2000 a 2003; o cabelão, a beleza e a simpatia de Sheron, em 2011 e 2012; a presença raiz e imponente de Edcléa e a generosidade de Bianca, de receber todas em seu reinado.
Mas Milton espera que, no figurino, elas apresentem um conjunto, uma unidade, ainda que em posições diferentes:
— Elas são belíssimas, mas cada uma tem seu estilo. Uma é mais maiô, outra é mais seminua. Tomara que haja um pensamento estético para juntar tudo isso e exaltar a mulher portelense. Com certeza, os ancestrais estarão ali com elas.
Brunet também não revela como virá no desfile, mas adianta que estará mais recatada, uma característica durante seu legado.
— A madrinha da bateria merece todo o brilho que já tivemos. Bianca é a raiz da escola — exalta Brunet. — Tenho uma causa, não comporta estar me destacando. Torço pelo carnaval democrático. Livre de violência, com respeito e segurança.
Bianca agradece, mas diz que quem deve brilhar é a escola.
— A gente tem que babar a águia, a Portela, a primeira escola de samba a fazer cem anos — completa.
Fonte O Globo