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Saúde

Enxaqueca com aura: ‘Senti tontura, tive formigamento e não conseguia falar direito; pensei que estava tendo um AVC’

Foto: Divulgação
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O gatilho da enxaqueca com aura da mineira Deborah Alves, 30, foi o consumo excessivo de cafeína antes de treinar. A cirurgiã-dentista procurou um pronto-socorro para ser atendida e, no hospital, se assustou por não conseguir entender o que o médico estava dizendo

O ano de 2024 começou com um susto para a mineira Deborah Alves, 30. Era fevereiro quando a cirurgiã-dentista pensou que estava tendo um acidente vascular cerebral (AVC). Ela descobriu que, na verdade, tinha desenvolvido enxaqueca com aura, quadro que afeta uma em cada quatro pessoas com esse tipo de dor de cabeça.

“As auras são sintomas neurológicos como alterações visuais, flashes, pontos escuros e luminosos, embaçamento ou mesmo perdas momentâneas de audição ou olfato”, explica a neurologista Thais Villa, idealizadora do Headache Center Brasil e membro da Sociedade Brasileira de Cefaleia. Normalmente, esses sintomas antecedem uma forte crise de dor de cabeça e foi o que aconteceu com Alves.

A cirurgiã-dentista estava no Crossfit quando começou a apresentar sinais de que algo estava errado. “Enquanto eu levantava a barra, percebi que a minha visão do olho direito ficou estranha. Primeiro, comecei a ver luzes e depois perdi um pouco do campo de visão e, junto com isso, veio uma tontura. Pensei que era por causa do treino”, relata.

A cirurgiã-dentista foi até o espelho para ver se havia algo de diferente com o seu olho, já que continuava enxergando os flashes de luz. “Percebi que a minha pupila direita estava maior do que a do esquerda. Eu me assustei bastante porque achei que estava tendo um AVC”, lembra.

Alves voltou para casa de carona, porque não conseguia dirigir, e percebeu que a tontura piorou. “Eu não conseguia ficar em pé e comecei a perder um pouco da fala. Eu sabia o que eu queria dizer, mas não conseguia encontrar as palavras”, conta.

A cirurgiã-dentista foi levada para o pronto-socorro e, no meio do caminho, começou a sentir formigamento na ponta dos dedos da mão direita. Ao chegar no hospital, a dificuldade na fala piorou. Se antes Alves não conseguia encontrar as palavras, ela passou a também não conseguir entender o que o médico dizia.

“Era como se ele estivesse falando outra língua. Quem respondeu por mim foi a minha mãe. Essa piora aconteceu em um intervalo de menos de uma hora”, lembra.

A mineira foi encaminhada para sala de observação, onde começou a ser medicada. “Enquanto eu estava no soro, comecei a sentir uma dor de cabeça insuportável, principalmente do lado direito. Algo que eu nunca senti na minha vida. Até pedi para as enfermeiras remédio para cefaléia e elas me falaram que eu já estava com a medicação. Assim que a dor de cabeça começou, os outros sintomas cessaram”, relata.

Alves chegou a fazer uma tomografia no pronto-socorro, mas o exame de imagem não acusou nada. O médico que a atendeu preferiu interná-la para que outras opções de diagnóstico pudessem ser descartadas.

Durante a internação, a cirurgiã-dentista foi submetida a uma ressonância magnética e surgiu uma alteração nos nervos ópticos, o que sugeria uma neurite óptica. A mineira já tinha uma mielite no histórico médico, que é uma inflamação na medula espinhal, o que deixou em aberto um possível diagnóstico de esclerose múltipla.

“Se eu apresentasse novamente um quadro de mielite ou inflamações, como nos nervos ópticos, o médico fecharia meu diagnóstico de esclerose múltipla”, explica. Só que durante a internação de quatro dias, Alves começou a achar estranho que nunca foi avaliada por um neurologista e nem sequer estava recebendo alguma medicação.

A dentista teve alta e decidiu investigar por conta própria a possibilidade de ter esclerose múltipla. Em uma consulta com uma neurologista especializada em doenças desmielinizantes, a médica ficou desconfiada em relação à ressonância magnética e pediu que o exame fosse refeito. O resultado mostrou que não havia nenhuma inflamação dos nervos ópticos, o que foi confirmado com outros testes visuais que Alves fez.

Alves foi levada de ambulância para fazer uma ressonância, durante a internação — Foto: Arquivo pessoal
Alves foi levada de ambulância para fazer uma ressonância, durante a internação — Foto: Arquivo pessoal

“A médica descartou que eu estava em um surto de esclerose múltipla e conseguimos fechar o diagnóstico de enxaqueca com aura”, esclarece.

Sintomas da enxaqueca com aura

Villa explica que a enxaqueca é uma doença neurológica e hereditária, caracterizada pela hiperexcitabilidade do cérebro, sendo a com aura um tipo da condição. O sintoma mais comum do quadro é a dor de cabeça, mas o paciente pode apresentar outros sinais da doença que não associados a ela loga de cara, como:

– Sensibilidade à luz, principalmente as brilhantes;
– Sensibilidade ao som, principalmente os mais altos;
– Sensibilidade a cheiro;
– Dormência e/ou formigamento;
– Fraqueza de um lado do corpo;
– Dores no pescoço e ombros;
– Sensação de tontura ou vertigem;
– Zumbidos no ouvido;
– Náusea com ou sem vômitos;
– Pálpebras inchadas e olhos lacrimejantes;
– Nariz entupido ou escorrendo;
– Dor facial;
– Bruxismo;
– Taquicardia;
– Pressão alta ou baixa;
– Mal-estar e cansaço;
– Dificuldade de concentração e memória;
– Alterações de humor.

O que pode desencadear a enxaqueca com aura?

A neurologista esclarece que a pessoa que desenvolve enxaqueca com ou sem aura tem que ter uma predisposição genética para a condição. A partir disso, há gatilhos que podem fazê-la surgir.

“Para a pessoa com enxaqueca, que já tem um cérebro mais excitado, passar por situações de estresse e preocupações vai piorar um quadro. O paciente pode ficar mais sintomático, apresentando mais dores de cabeça e os outros sintomas que podem ser provocados pela doença”, completa.

Bebidas e alimentos estimulantes também podem ser gatilhos para as crises de enxaqueca, inclusive com aura, aumentando a frequência, intensidade e duração delas. A cafeína é a principal substância. Alves relata que no dia que foi parar no hospital havia bebido uma xícara de café maior do que a de costume.

Atualmente, ela não faz tratamento com nenhum remédio para a enxaqueca com aura, mas não consome mais nada com café.

É preciso atenção também a alimentos termogênicos, como algumas pimentas mais fortes, gengibre, cúrcuma, canela e aqueles que têm glutamato monossódico. “Mudanças bruscas de temperatura, ou mesmo as altas temperaturas, também podem desencadear crises de enxaqueca”, completa Villa.

O diagnóstico e tratamento da enxaqueca com aura

O diagnóstico da enxaqueca com aura (ou sem) é realizado a partir da análise clínica de um neurologista, de preferência especializado na condição. Não existe um exame capaz de diagnosticar a doença e, por isso, a avaliação por alguém especializado é tão necessária.

“Muitas pessoas pensam que enxaqueca é igual a dor de cabeça, ou que enxaqueca é só a dor de cabeça. Além disso, muitos não sabem que fatores externos podem piorar a doença, sendo o principal deles o uso de medicamentos para dor de maneira indiscriminada, como analgésicos e anti-inflamatórios, e também o consumo de alimentos que contêm o estimulante cafeína. A enxaqueca é uma doença que tem tratamento eficiente e específico e pode ser completamente controlada”, reforça a neurologista.

De acordo com Villa, os tratamentos mais específicos para a enxaqueca utilizam a toxina botulínica e anticorpos monoclonais anti CGRP, que gerenciam os diversos sintomas da doença.

A relação da enxaqueca com aura e o AVC

Ainda que o quadro de Alves não tenha sido de um acidente vascular cerebral, o caso acende um alerta sobre a relação que existe entre a enxaqueca com aura e o AVC.

Segundo a neurologista, pesquisas recentes apontam um risco aumentado para acidente vascular cerebral entre as mulheres abaixo dos 50 anos que sofrem de enxaqueca. Uma das explicações mais sólidas para essa relação é que esse público se encontra em idade fértil e costuma fazer uso de contraceptivos que combinam os hormônios estrogênio e progesterona, aumentando os riscos de AVC em quem tem enxaqueca.

“Se a enxaqueca for com aura, o risco para AVC é dobrado. É importante ressaltar às pacientes que, mesmo com o sumiço do sintoma, a condição para o AVC se mantém”, ressalta a neurologista.

Fonte Marie Claire

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