Internacional
Astronautas ‘presos’ no espaço devem voltar em duas semanas, mas terão desafios para se adaptar à Terra; entenda

Missão Crew-10 chegou à ISS neste domingo para resgatar astronautas “presos” no espaço desde junho de 2024; Barry Wilmore e Suni Williams terão de passar programas de reabilitação e tratamento médico
A missão Crew-10 da SpaceX, em parceria com a Nasa, chegou com à Estação Espacial Internacional (ISS) na madrugada deste domingo (16), após uma viagem de 28 horas pelo espaço. A missão Crew-10 deve trazer de volta à Terra em duas semanas dois astronautas que estão “presos” no espaço desde junho de 2024.
Mas enquanto o mundo observa o retorno dos astronautas, uma questão permanece aberta: o que vai acontecer quando os astronautas, que passaram quase um ano no espaço, voltarem à Terra?
Especialistas alertam que o retorno será delicado e vai exigir acompanhamento médico, uma vez que os efeitos físicos mentais podem ser avassaladores. Estar no espaço não é apenas uma experiência de tirar o fôlego — altera fundamentalmente o corpo humano.
A falta de gravidade afeta tudo, dos ossos à função cerebral, e Barry Wilmore e Suni Williams enfrentarão um reajuste desafiador quando seus pés tocarem o chão firme novamente.
Enquanto se preparam para o momento tão esperado, o verdadeiro desafio está apenas começando. Assim que os astronautas pousarem, eles passarão por extensas avaliações médicas e programas de reabilitação para ajudar seus corpos a se ajustarem à vida sob a gravidade da Terra mais uma vez.
Então, embora sua missão de resgate possa ser um retorno triunfante, os efeitos persistentes de sua estadia prolongada no espaço podem ser algo que eles carregarão consigo para sempre.
Alan Duffy, astrofísico da Universidade Swinburne, da Austrália, disse ao The Guardian que fluidos se acumulam na cabeça, fazendo com que os astronautas se sintam como se estivessem constantemente resfriados. Ele acrescentou que os sentidos olfativos também são diminuídos.
E tem mais: o acúmulo de fluido muda o formato dos globos oculares e enfraquece a visão, segundo o especialista. Isso, no entanto, tende a voltar ao normal depois de um tempo na Terra, mas em alguns casos as pessoas precisam usar óculos para o resto da vida. Outra questão é que ao votar a pisar no solo, os viajantes espaciais terão dificuldade para andar e ficarão tontos facilmente.
Meng Law, professor e diretor de radiologia e neurociência na Monash University, também da Austrália, complementou que, no espaço, “o cérebro fica encharcado”. Para resolver isso, ele relatou que a SpaceX e a Nasa estão trabalhando em centrífugas nas quais os astronautas poderiam dormir, o que faria o fluido sair de suas cabeças.
Volta à Terra
De acordo com Duffy, quando retornarem, o recondicionamento de Barry Wilmore e Suni Williams será semelhante à fisioterapia intensa necessária para pessoas que saem de um coma.
O problema é que isso, segundo Tucker, é bastante cansativo, o que pode contribuir para os impactos psicológicos do retorno. Cabe, então, à equipe de médicos encontrar um equilíbrio entre fortalecer os astronautas e não cansá-los em demasia.
Ainda na parte psicológica, é normal que astronautas que voltem para casa depois de tanto tempo longe apresentem ansiedade e depressão. Outra coisa que podem experimentar é o chamado “efeito de visão geral”, com impactos na saúde mental.
O astrofísico da Australian National University disse que ver a curvatura da Terra, e vê-la de cima, leva alguns a relatar uma conexão incrível com a humanidade, uma sensação imediata de sua fragilidade.
“Algumas pessoas chamam isso de sentimento de inspiração. Algumas pessoas chamam isso de sentimentos de inadequação em termos de quão grande o mundo é”, apontou. E, então, elas têm de voltar à Terra, tanto literal quanto figurativamente. “Elas têm que fazer café da manhã e dirigir para o trabalho. É uma transição enorme de viver em um ambiente muito inspirador”, finalizou Tucker.
Entenda a história
A dupla embarcou em junho de 2024 na cápsula Starliner, da Boeing, que fazia sua estreia em voos tripulados após anos de atrasos. No entanto, após a nave apresentar falhas, a agência espacial americana decidiu trazê-la de volta sozinha e postergar a viagem dos astronautas até que houvesse uma alternativa segura.
Apesar de a estadia inesperadamente longa, Wilmore e Williams afirmam que estão saudáveis e comprometidos com a missão. Durante os nove meses a bordo, eles participaram de experimentos científicos e até realizaram uma caminhada espacial.
Para Williams, o maior desafio não foi a permanência no espaço, mas a ansiedade das famílias na Terra. “Tem sido uma montanha-russa para eles, provavelmente um pouco mais do que para nós”, ela disse durante coletiva de imprensa realizada esta semana. “Estamos aqui. Temos uma missão. Estamos apenas fazendo o que fazemos todos os dias, e todos os dias são interessantes porque estamos no espaço, e é muito divertido.
A astronauta, segundo reportagem da Associated Press, também demonstrou entusiasmo com a continuidade dos estudos científicos na ISS, discordando de recentes declarações de Elon Musk, CEO da SpaceX, que sugeriu desativar a estação antes de 2031.
“Este lugar está funcionando. É realmente incrível, então eu diria que estamos realmente no nosso auge agora”, salientou. “Eu acho que agora provavelmente não é o momento certo para dizer pare, pare.”
Como a volta dos astronautas a bordo de uma cápsula Dragon não estava nos planos iniciais, eles não terão trajes personalizados para a reentrada na atmosfera terrestre. No entanto, Wilmore garantiu que isso não será um problema e brincou que pode simplesmente escrever seu nome à mão no traje genérico que usará.
Fonte Época Negócios