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Novocaine é diversão pura e nem precisa tentar ser mais do que isso

Comédia de ação com Jack Quaid usa “alto conceito” da dor para tirar melhor proveito da ação e do humor
Filmes de “alto conceito” (ou, em inglês, high concept) são aquelas produções com enredo único, que possuem um elemento específico que as diferencia de outras iguais e que são fáceis de vender. Geralmente, podem ser resumidos com uma pequena frase resumindo toda a ideia. Por exemplo: “um filme de serial-killer/slasher no mar”, descreve bem o Tubarão, de Steven Spielberg. “Um advogado que só consegue dizer a verdade” deu ao mundo o excelente O Mentiroso, com Jim Carrey. “Um suspense policial, só que de trás para frente” e temos Amnésia, de Christopher Nolan. É exatamente aí que mora a graça e a diversão de Novocaine: À Prova de Dor.
A história é simples: Nathan Caine (Jack Quaid) é um solitário gerente de banco que se apaixona por uma colega do trabalho. Durante um assalto na véspera do natal, a jovem (Amber Midthunder) é sequestrada pelos bandidos e Nathan decide ir atrás. O diferencial: ele sofre desde sempre de Insensibilidade Congênita à Dor com Anidrose (CIPA), uma doença rara que não permite que ele sinta dores ou temperaturas. O que começa como um drama para Nathan, o dia a dia cheio de regras e as memórias do bullying da época do colégio, logo vira sua chance – ou superpoder? – contra o grupo de assaltantes.
Bebendo da fonte de filmes de ação atuais, como Anônimo e Trem-Bala, com suas movimentações de câmera espertinhas, Novocaine: à Prova de Dor se aproxima muito de Adrenalina, com Jason Statham. Enquanto Chevy Chelios precisava se enfiar em várias situações e ótimas cenas de ação para que a adrenalina do seu corpo não caísse, aqui temos o uso da CIPA para brincar tanto com as lutas, tiroteios e perseguições. Mas esqueça o lado brucutu do filme de 2006, Novocaine usa a fisicalidade, o gore e a aflição com a dor em prol não só da ação, mas também da comédia.
Jack Quaid abraça de vez essa persona do jovem com cara de bom moço que é jogado em situações extremas. Já foi assim em The Boys, Pânico 5, Acompanhante Perfeita e até no trabalho de voz em Lower Decks, série animada de Star Trek. Como Nathan Caine, ele volta a provar que é o ator perfeito para essas situações. Os diretores Dan Berk e Rober Olsen acertam em dar o tempo necessário para que conheçamos o personagem, seus traumas com a CIPA e para nos afeiçoarmos ao relacionamento dele com Sherry. Quando ele se joga na ação, a ideia do desastrado bonzinho, que não sofre com o tanto que apanha e os ferimentos causados é hilária. A direção da dupla sabe o momento exato de cortar a piada bonachona e encher a tela o nervoso de um caco de vidro cortando a pele do protagonista ou Nathan tendo as unhas arrancadas com um alicate.
Se não precisamos nos importar com qualquer tentativa de dar mais profundidade aos vilões ou mesmo do previsível twist ali pela metade, isso acontece porque o filme entende que é na ação e na comédia que a atenção do espectador deve estar focada. A cena à la Esqueceram de Mim é praticamente perfeita nesse quesito e facilmente a melhor do filme. Novocaine: À Prova de Dor é diversão pura e simples. E o grande trunfo é não precisar e nem tentar sem nada além disso.
Fonte Omelete