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Saúde

Autismo diagnosticado na infância tem perfil genético diferente do identificado na adolescência

foto: reprodução internet
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Pesquisa internacional com mais de 45 pessoas com TEA questiona visão do autismo como condição única e aponta para necessidade de abordagens mais específicas

Transtorno do Espectro Autista (TEA) não deve ser entendido como uma condição única com causas e características uniformes, revela um estudo internacional publicado na revista Nature, no dia 1 de outubro. A pesquisa, baseada em dados genéticos de mais de 45 mil pessoas com o transtorno na Europa e nos EUA, descobriu que aqueles diagnosticados precocemente na infância têm um perfil genético e de desenvolvimento diferente daqueles diagnosticados posteriormente.

O levantamento mostra que crianças diagnosticadas antes dos seis anos de idade costumam apresentar dificuldades de interação social e comportamentos restritivos desde cedo, mas de forma estável ao longo da vida. Entretanto, aqueles diagnosticados após os 10 anos enfrentam um aumento gradual desses desafios durante a adolescência e têm maior propensão a problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade.

“O termo ‘autismo’ provavelmente descreve múltiplas condições”, afirma Varun Warrier, do Departamento de Psiquiatria de Cambridge e autor sênior da pesquisa, ao The Guardian. “Pela primeira vez, descobrimos que o autismo diagnosticado precocemente e tardiamente apresenta diferentes perfis biológicos e de desenvolvimento subjacentes.”

Segundo os cientistas, embora os achados reforcem a existência de subgrupos dentro do espectro autista, não há recomendação para dividir formalmente os diagnósticos, porque muitos indivíduos podem apresentar características intermediárias. “É um gradiente”, explica Warrier. “Há também muitos outros fatores que contribuem para a idade do diagnóstico, então, no momento em que você passa de médias para qualquer coisa que seja aplicável a um indivíduo, é uma falsa equivalência”.

O autismo diagnosticado tardiamente mostra perfil genético mais próximo do TDAH e da depressão, com desafios sociais que frequentemente se intensificam durante a adolescência. — Foto: NCI/Unplash
O autismo diagnosticado tardiamente mostra perfil genético mais próximo do TDAH e da depressão, com desafios sociais que frequentemente se intensificam durante a adolescência. — Foto: NCI/Unplash

O estudo também sugere que os perfis genéticos de quem recebe diagnóstico tardio se aproximam mais de condições como TDAH, depressão e transtorno de estresse pós-traumático. Entretanto, aqueles diagnosticados precocemente carregam mais variantes genéticas historicamente associadas ao autismo.

Para a professora Uta Frith, especialista em desenvolvimento cognitivo da University College London, que não participou da pesquisa, os resultados são promissores. “Isso nos dá esperança de que mais subgrupos venham à tona e cada um encontre um rótulo diagnóstico adequado. É hora de perceber que o ‘autismo’ se tornou um amontoado de condições diferentes.”

O diagnóstico de autismo tem crescido de forma significativa nas últimas décadas, de acordo com o Censo Demográfico de 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 2,4 milhões de brasileiros receberam o diagnóstico de TEA, representando aproximadamente 1,2% da população nacional. A nova pesquisa reforça a necessidade de compreender melhor a diversidade dentro do espectro e de desenvolver estratégias de acompanhamento individualizadas.

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