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Saúde

Sabiá: o que se sabe sobre único vírus brasileiro de risco biológico máximo três décadas após 1º caso

foto: reprodução internet
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Infecção foi identificada pela primeira vez em Cotia (SP), em 1990. Dois dos quatro casos descritos na literatura resultaram em mortes.

Três décadas após o primeiro caso, o vírus Sabiá ainda intriga a comunidade científica. Identificado pela primeira vez em Cotia (SP), ele é o único patógeno brasileiro classificado no nível máximo de risco biológico, a classe 4, que inclui agentes como o Ebola.

🔎 A classe 4 de risco biológico é o nível mais alto de biossegurança. Abrange agentes capazes de causar doenças graves e fatais, sem tratamento ou vacina disponíveis. Por isso, só podem ser manipulados em laboratórios com estruturas controladas, barreiras físicas e protocolos rígidos.

Para estudar vírus na classe 4, pesquisadores passam por um treinamento que, nos Estados Unidos, envolve até a investigação do FBI sobre a vida deles. Jacqueline Shimizu, do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), passou pelo processo – entenda aqui.

Abaixo, confira o que se sabe e o que ainda falta esclarecer sobre a infecção:

  1. Qual a origem do vírus?
  2. Onde surgiram os primeiros casos?
  3. Como ocorre a transmissão?
  4. Quais são os sintomas?
  5. Existe tratamento ou vacina?
  6. Por que é considerado tão perigoso?
  7. Quais são os avanços mais recentes da ciência?

1. Qual é a origem do vírus?

O vírus foi batizado em referência ao bairro Sabiá, em Cotia (SP), onde ocorreu o primeiro caso. Ele pertence ao gênero Mammarenavirus, que inclui outros arenavírus responsáveis pela febre hemorrágica viral em humanos:

  • Vírus Junin (na Argentina);
  • Vírus Machupo e Chapare (na Bolívia);
  • Vírus Guanarito (na Venezuela).

2. Onde surgiram os primeiros casos?

O primeiro caso ocorreu nos anos 1990, em Cotia (SP), em uma engenheira agrônoma de 25 anos que morreu após a infecção. Outros três episódios foram registrados:

  • um técnico de laboratório de 39 anos, infectado ao manipular amostras da primeira paciente, mas que se recuperou;
  • um virologista nos Estados Unidos, provavelmente durante pesquisa, também curado;
  • um operador de máquina de café, de 32 anos, em Espírito Santo do Pinhal (SP), em 1999. O caso evoluiu para óbito.

3. Como ocorre a transmissão?

Segundo a Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), a transmissão da febre hemorrágica brasileira acontece pela inalação de partículas de urina, fezes ou saliva de roedores infectados.

Não se sabe qual é a espécie transmissora da doença no Brasil, mas os hospedeiros dos vírus são roedores silvestres, ou seja, que vivem em ambiente de mata e com alta densidade de vegetação.

Transmissão da febre hemorrágica brasileira acontece pela inalação de partículas de urina, fezes ou saliva de roedores infectados — Foto: Getty Images via BBC

Transmissão da febre hemorrágica brasileira acontece pela inalação de partículas de urina, fezes ou saliva de roedores infectados — via BBC

4. Quais são os sintomas?

Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a febre hemorrágica brasileira tem um período de incubação considerado longo, de entre uma semana e mais de um mês. Os principais sintomas são:

  • febre
  • mal-estar
  • dores musculares
  • manchas vermelhas no corpo
  • dor de garganta
  • dor de estômago e atrás dos olhos
  • dor de cabeça
  • tonturas
  • sensibilidade à luz
  • constipação
  • sangramento de mucosas (boca e nariz, por exemplo)

“Conforme o quadro evolui, há risco de comprometimentos neurológico (sonolência, confusão mental, alteração de comportamento e convulsão) e hepático (hepatite)”, destacou, em nota.

5. Existe tratamento ou vacina?

Não existe terapia específica ou vacina. O tratamento é feito de acordo com os sintomas dos pacientes.

6. Por que é considerado tão perigoso?

O Sabiá integra a classe 4 de risco biológico (NB4), a mais alta, devido à alta letalidade e ausência de medidas eficazes de cura. Ele está na mesma categoria de vírus como Ebola e o Marburg.

7. Quais são os avanços mais recentes da ciência?

Uma pesquisadora brasileira passou por treinamentos internacionais para estudar o vírus em condições seguras. A analista de desenvolvimento tecnológico Jacqueline Farinha Shimizu concluiu um treinamento NB4 na University of Texas Medical Branch (EUA), onde manipulou o vírus Sabiá.

Além disso, está em construção, em Campinas (SP), o projeto Orion, primeiro complexo de laboratórios NB4 da América Latina. Ele permitirá que o Sabiá e outros patógenos sejam estudados no Brasil, em condições de segurança, sem depender exclusivamente de parcerias internacionais.

Em construção no campus do CNPEM, o maior investimento nacional em ciência na história do Brasil, o laboratório terá 29 mil metros quadrados e deve ser inaugurado em 2027. O custo estimado da obra é de R$ 1,5 bilhão.

Fonte EPTV Campinas

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